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Quais os problemas da TV Digital no Brasil?

Por FRederick Montero

Data de Publicação: 24 de Fevereiro de 2009

Em primeiro lugar, o fato de ninguém levar à sério o mercado de entretenimento no Brasil, com exceção da Rede Globo. E quando eu digo à sério, quero dizer como uma fonte viável de negócios lucrativos.

A TV Digital brasileira foi pensada de modo perfeito como meio de educação, de integração à cidadania e de ligação com serviços do governo. Até também como forma de melhorar a propaganda de produtos através de recursos interativos. Até aí não há problema com ela, porque todas essas áreas são sempre muito esquecidas e precisam de vez em quando de um incentivo extra. Porém faltou visão para enxergar a TV Digital como um meio de entretenimento do século XX. Nessa área, pensou-se na TV Digital como se pensava a TV no século passado. Aí então provavelmente as redes de TV tem sua parcela de culpa ou por miopia, ou por ganância.

Em uma época tão multimídia como a atual, a TV ficou isolada. E isso é o resultado de não se perceber as tendências mundiais da comunicação e do entretenimento durante o seu desenvolvimento. Porque hoje em dia, não é possível pensar em entretenimento sem pensar em valores como mobilidade, flexibilidade e multiplicidade de acessos aos conteúdos. Apostar em apenas um único caminho para assistir a um bom filme ou capítulo da série favorita é ignorar os anseios dos espectadores por uma maior liberdade no contato com o entretenimento.

Em resumo, o problema da TV Digital brasileira não é o sistema em si, porque em verdade, o seu princípio é excelente. O que lhe falta é uma perspectiva que permita ver a questão de uma forma mais ampla e além do atual estágio. Porque não se pode agora acreditar que o trabalho está terminado já que o sistema foi lançado ao público. O comportamento e o hábito dos espectadores mudam constantemente e durante os anos de desenvolvimento da TV Digital no Brasil, o público deixou de aceitar passivamente a programação que as redes de televisão aberta lhe impunham.

Primeiro com a oferta de canais à cabo ou via satélite. E agora com a disponibilidade de filmes e séries de TV através da internet e da pirataria, o público constroi a sua programação à revelia do que a TV aberta oferece. Mas como a TV Digital brasileira está atrelada ao perfil antigo que as redes imaginam que os espectadores ainda tem, o ganho de qualidade de imagem e som proporcionado pelo modelo não supre a demanda por uma programação mais diversificada e específica para cada público.

E não apenas isso, ela também não satisfaz a atual pluralidade de meios de apreciação de conteúdos digitais, como iPods e telefones celulares, e muito menos o intercâmbio desses conteúdos entre diferentes gadgets. A TV fica isolada em um amplo ecossistema de aparelhos eletrônicos.

Neste contexto, a principal vantagem do sistema de TV Digital brasileiro, que é a interatividade e a linguagem Ginga, se perde por completo, porque exerce um papel secundário e menor. Os Set-top boxes que deveriam ser o centro do entretenimento digital nas casas, ficam restritos à função de apenas garantir uma recepção limpa e de melhor qualidade da mesma programação a qual os espectadores já estão acostumados. Isso pelo mesmo preço a que se paga por um produto com mais funções e importado como o AppleTV.

Acontece que o público atual não quer mais qualidade para as mesmas novelas as quais estão acostumados a ver durante décadas. Este público, que é capaz de comprar DVDs piratas em camelôs, filmados com câmeras amadoras em salas de cinema, não se importa mais tanto com qualidade, do que se importa com variedade e quantidade. Portanto, a TV Digital não agrega valor às necessidades atuais dos espectadores. Ainda mais se levarmos em conta que apenas uma parcela ínfima da população pode comprar uma televisão de alta-qualidade para perceber o ganho de imagem. Deste modo, sem um foco nas necessidades e nos hábitos dos espectadores, o sistema de TV Digital demora para se popularizar e coleciona críticas, muitas vezes injustificadas. E o pior, um dos bons projetos feitos no Brasil na área de comunicação, a linguagem Ginga para conteúdos interativos, fica presa a um peso morto que a puxa para o fundo. Todas as boas idéias e escolhas, como o Ginga e a adoção do h.264, são jogadas no mesmo saco do fracasso, como se fossem também responsáveis pela impopularidade do sistema de TV Digital brasileiro.

Sobre o autor

Frederick Montero, diretor, produtor e editor de vídeo. Formado em Filosofia pela Unicamp, é diretor do vídeo Supermegalooping, premiado no Primeiro Festival de Vídeos pela Internet. Mantém o blog sobre mídias digitais d1Tempo Digital.


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