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Vodcast: Distribuição de Vídeos pela Internet - Parte 2

Por Frederick Montero

Data de Publicação: 10 de Março de 2007

Segunda parte

3. Análise das variáveis

Quando pensamos a respeito da distribuição de vídeos pela internet, hoje em dia é difícil fugir da comparação com os serviço oferecidos pelo YouTube ou o GoogleVideo. Analisando profundamente o conceito por trás do sistema que eles oferecem, é fácil perceber que o YouTube faz o sucesso que tem com vídeos curtos de até no máximo dez minutos, porque o tamanho reduzido das imagens torna por demais enfadonha e cansativa a tarefa de assistir a vídeos muito longos, acima de dez minutos de duração. Na grande maioria dos casos, os vídeos do YouTube representam pequenos esquetes humorísticos, video-clipes ou reportagens curiosas, extraídos de programas de televisão, que se adaptam perfeitamente ao formato de vídeo oferecido em uma página de internet, porque são feitos para serem um entretenimento passageiro e descartável durante as nossas atividades diárias, em grande parte do tempo no ambiente de trabalho. Porém se por acaso passássemos a utilizar este mesmo formato para a distribuição de vídeos educacionais e de treinamento, consequentemente verificaríamos que a tendência é dispersarmos a atenção do espectador com a multiplicidade de informações espalhadas ao longo da página do site ou mesmo por eventuais interrupções provenientes das mensagens de email, dos comunicadores instantâneos, da poluição visual de ícones no ambiente gráfico ou por eventos exteriores aos limites do computador, como os provenientes do próprio ambiente de trabalho.

Mesmo correndo o risco de estar levantando uma distinção por demais sutil, o fato é que a televisão representa um equipamento que busca provocar uma atitude passiva e relaxada do espectador, na qual ele se coloca apenas como um receptor das informações. Muito diferente do que ocorre com o computador e a internet, que exigem de seus usuários um posicionamento ativo mais constante, de tal forma que uma pessoa na frente de um computador é impelida a constantemente interagir com as informações que lhe são fornecidas. Assim, porque liberam rapidamente o internauta para reagir e interagir com outros estímulos, os vídeos de curta duração, em um formato de tela reduzido, adaptam-se mais adequadamente ao modelo das páginas de sites na internet.

Mas nem todos os vídeos conseguem esgotar por completo todo o assunto que pretendem informar em um curto período de tempo. Uma aula ou um treinamento muitas vezes requisitam mais do que apenas dez minutos da atenção do aluno e necessitam criar o ambiente propício para concentrar o espectador por completo no assunto que o vídeo aborda. Porém o próprio ambiente gráfico do computador, com sua multidão de ícones coloridos e chamativos de inúmeros programas e arquivos gera uma confusão de sinais visuais ao redor do vídeo que é quase impossível para o espectador não se distrair com eles, assim como no trânsito das grandes cidades os motorista se distraem com a enorme seqüência de outdoors e anúncios publicitários nas ruas. Para efeito de comparação, o meio televisivo, entre os equipamentos e a linguagem que utiliza, evita ao máximo complicar e estender a interação das pessoas com as informações que são fornecidas pelas suas imagens, criando um ambiente propício para capturar integralmente a atenção dos seus espectadores. Na maior parte das vezes, o foco da atenção do espectador é mantido diretamente sobre as imagens e os sons cujas informações precisam ser assimiladas, sem interferências de informações secundárias em torno do assunto principal.

Vamos imaginar que estamos em uma sala de cinema, com seu ambiente escuro e aconchegante, na qual o único ponto luminoso é a tela de cinema. Mesmo com muito esforço, é quase impossível para qualquer pessoa desviar o olhar das imagens que correm na tela, a não ser fechando os olhos, simplesmente porque dentro de um cinema não existem outros pontos significativos que concorreram pela sua atenção. Mas agora num esforço maior de imaginação, pensem nesta mesma sala de cinema, com todas as luzes acessas, com um vendedor de pipocas chamando os espectadores, com anúncios animados em painéis publicitários ao redor da tela e que mudam a cada dois ou três minutos, anunciando os filmes que estão em cartaz nas outras salas e você tendo mais o seu celular ligado, tocando de meia em meia hora. Por mais ridícula e peculiar que possa ser esta imagem criada pela nossa imaginação, esta sala de cinema com toda essa poluição visual é mais ou menos o equivalente a se assistir um vídeo de uma hora através de um site pela internet. Por maior que seja a sua vontade de assistir ao filme que passa na tela, é necessário um esforço sobre-humano para não se distrair com o que ocorre ao seu redor.

Mesmo que eventualmente desejássemos prover nossos vídeos de conteúdo interativo, o objetivo primordial era manter o foco das pessoas em um único elemento por vez, fazendo-as se desligarem das distrações que causassem ruído na recepção das informações principais. O ideal mesmo era que a plataforma para a visualização dos vídeos fosse dedicada à experiência de escolher e assistir aos vídeos que oferecêssemos para o nosso espectador, reduzindo as chances de que a sua atenção em qualquer momento escapasse em direção a elementos fora dessa tarefa, quando necessário. Portanto o mais óbvio a se fazer era distribuir os vídeos diretamente para algum programa exclusivo para a reprodução de conteúdos audiovisuais, como o VideoLan, Media Player ou o iTunes, no qual é possível configurá-lo para que nossos vídeos sejam visualizados em tela cheia e os comandos sejam restritos aos estritamente necessários para escolher, reproduzir, pausar, retroceder e avançar as mídias.

Ainda no início do nosso projeto de distribuição de vídeos pela internet, nossa segunda preocupação estava relacionada com a segurança dos conteúdos que iríamos disponibilizar através da rede. Muitos dos vídeos eram sobre cursos que abordavam procedimentos desenvolvidos exclusivamente em nossa empresa e não desejávamos que esses vídeos pudessem se espalhar sem nosso controle através da internet. Obviamente, a solução para este caso deveria se encontrar na escolha do método de transmissão, porque o que nos importava era não permitir que os vídeos fossem de qualquer modo armazenados no computador de quem requisitasse a sua recepção, impedindo que viessem a ser desviados para outros fins.

Em geral, os serviços do YouTube são tratados em blogs e noticiários como sendo uma forma de Streaming. Mas ao contrário do que é então popularmente divulgado, o YouTube na verdade utiliza um método de publicação em suas páginas chamado de Download Progressivo, desenvolvido ainda na década de 1990 pela Apple, quando o Quicktime começou a perder terreno na briga entre os programas reprodutores de mídia para o RealPlayer e para o Windows Media Player. O método na verdade serviu no seu início como uma forma de driblar o atraso no aprimoramento do streaming no Quicktime, porque ajudava a aliviar a ansiedade dos internautas, ao suavizar a principal dificuldade que existia no download tradicional de vídeos: a necessidade de aguardar o download completo do arquivo para daí poder reproduzir o vídeo. O problema é que, como o nome diz, esta não deixa de ser uma forma de download, na qual um cópia do vídeo fica armazenada no diretório cache dos navegador de internet, o que abre a possibilidade de se obter uma cópia fiel ao arquivo original, abrindo as portas para um uso ou distribuição não intencionados do conteúdo.

Por outro lado, o streaming permite que apenas um pedaço do arquivo do vídeo, correspondente ao trecho que está sendo reproduzido, fique armazenado temporariamente no computador do espectador e tão logo a reprodução do vídeo se encerra, não resta traço algum do arquivo dentro do computador. Com isso, controlamos melhor o destino final dos vídeos, fiscalizando o acesso de quem tem autorização ou não para acessá-los, através de um gerenciamento por meio de identificação e senha na sua reprodução, diretamente do servidor de Streaming.

Mas ainda não estávamos prontos para começar a planejar e implementar o projeto porque ainda tínhamos que lidar com a questão de como manter nossos alunos atualizados sobre as alterações na relação de aulas disponíveis em vídeo. O sistema precisava contemplar um modo de indicar ao aluno quais as aulas à sua disposição e quais ele ainda não havia assistido, tudo isso a partir do programa de reprodução de mídia. Ou seja, esse programa precisava mais do que apenas reproduzir os vídeos. Ele precisava gerenciar esses vídeos, separando-os por cursos ou classes, indicando quais já haviam sido vistos e memorizando os trechos em que o aluno havia deixado de assisti-lo.

Assim, durante os estudos de implementação do projeto, concluímos que os principais requisitos para uma boa experiência do espectador ou aluno, no nosso caso, envolveriam: (1) utilizar um programa de reprodução de multimídia para receber os vídeos; (2) utilizar o streaming de vídeo para mantermos o controle sobre a distribuição dos vídeos; e (3) distribuir os vídeos por meio de uma lista que se atualize automaticamente a relação de vídeos disponíveis. Entre as opções que tínhamos para desenvolver o projeto, a que acreditávamos melhor se encaixar nestes requisitos era um sistema chamado de Vodcast, resultado de uma pesquisa feita por uma empresa holandesa chamada JetStream.

Sobre o autor

Frederick Montero, diretor, produtor e editor de vídeo. Formado em Filosofia pela Unicamp, é diretor do vídeo Supermegalooping, premiado no Primeiro Festival de Vídeos pela Internet. Mantém o blog sobre mídias digitais d1Tempo Digital.


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