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Intel e OLPC finalmente unidas

Por Jaime Balbino

Data de Publicação: 26 de Julho de 2007

Causou certa comoção o anúncio de uma parceria entre a OLPC e a Intel, depois dos dois lados terem travado ásperas trocas de acusação, como Negroponte chamando a estratégia de barateamento do ClassMate de dumping e a Intel afirmar que o seu projeto "também" é um projeto educacional, parodiando Negroponte.

Deixando as fofocas de lado, como as patrocinadas pelo Meio-Bit. Qualquer análise um pouco racional perceberá que as críticas, principalmente as da OLPC, se referiam à divisão inútil de esforço numa briga por fatias de mercado que tenderia a inviabilizar ambos os projetos, com prejuízos maiores para a OLPC, dado seu maior comprometimento, foco e objetivo.

A partir do momento que a Intel levanta a bandeira branca, faz sua mea-culpa e aceita discutir seriamente a disseminação dos laptops de baixo custo, deixando claro quais são seus interesses, não há porque brigar ou criticar mais.

Durante o 1o Encontro de Laptops Educacionais perguntei aos representantes da Intel que acabavam de fazer uma longa preleção sobre o ClassMate e as redes WiMax quais eram as intenções de convergência dessas tecnologias, incluindo o EEE da Asus e a sua nova plataforma MID, para equipamentos móveis.

Tentei ser o mais discreto possível, jogando "muito verde", e o resultado foi uma farta colheita, "bem madura":

  • Eles admitiram que o ClassMate é um "computador-conceito" que pode ser fabricado com todas ou partes de suas características por qualquer empresa interessada. Isto é, não veremos o ClassMate sendo comercializado, principalmente porque a tecnologia mais cara no qual é baseado (o Pentinum/Celeron) não é competitiva para este tipo de aparelho. Mas os softwares, tamanho, indicadores de resistência e sugestões de uso podem fazer parte de outros projetos educacionais.
  • Sem discrição os dois representantes "torceram o nariz" para o EEE da Asus. Ele não tem nada a ver com o ClassMate e não foi baseado nele. No entanto ele é um produto voltado para mercados emergentes, que pode ser utilizado em educação e, principalmente, utilizará a nova plataforma de mobilidade da Intel. Em resumo: é o tipo de parceria que a Intel gosta de fazer.
  • O WiMax é peça fundamental e motor de todas as ações em mobilidade da Intel. O que parece interessar realmente à empresa é vender serviços móveis com esta tecnologia, da qual possui a patente. A nova plataforma MID, laptops educacionais e outros equipamentos móveis de uso geral apenas agregam valor à investida da Intel em ganhar este mercado - antes que outra tecnologia sem-fio melhor apareça.

Aqueles que acham estranho e até suspeito o ingresso da Intel na OLPC não percebem os movimentos que a empresa fez nos últimos anos e como ela está tentando se adaptar à nova realidade: A Intel simplesmente desistiu do mercado de dispositivos móveis, apesar do seu crescimento surpreendente e de ter sido um dos principais fornecedores de tecnologia ela simplesmente abandonou o filão porque os lucros eram pequenos e o nível de inovação baixo. Ela decidiu, sabiamente, se concentrar naquilo que faz melhor e lhe é mais rentável: desenvolver processadores e outras tecnologias de última geração, tão caras e avançadas que não podem ser embutidas em dispositivos móveis, que usam chips com mais de 10 anos de existência (o IPhone da Apple utiliza dois chips antigos para todas as suas funções).

Depois que a OLPC apareceu a Intel fez todos os movimentos para dar alguma resposta em um ramo que ela não queria ver desenvolvido. O Américo Damasceno chamou este mercado de "PC-BIC" em alusão à famosa e, principalmente, barata caneta esferográfica. Manter os computadores de baixo-custo presos ao nicho educacional é interessante, o problema é quando estas máquinas avançam sobre os mercados realmente rentáveis, como os escritórios e demais consumidores. Este, por sinal, é o objeitvo de projetos como o EEE da Asus e o Mobilis da Encore.

Quem recuou e aceitou o peso dos argumentos foi a Intel e não a OLPC. Se ela conseguir compatibilizar o XO com a rede WiMax já terá um ganho estratégico enorme. Além disso, passará a integrar um time de desenvolvedores e tecnologias com grande potencial de assimilação. Pensem comigo: o que seria da tecnologia da Rede Mesh se não fosse a OLPC?

O mais importante para a OLPC é que a plataforma que ela passou mais de 3 anos desenvolvendo irá "conversar" com a nova plataforma móvel da Intel. Produtos, softwares e conectividade serão compatíveis. Isto é um ganho enorme para ambos e, principalmente, para nós, usuários.

Sobre os autores

Jaime Balbino Gonçalves

Jaime Balbino Gonçalves da Silva é Learning Designer e consultor em automação, sistemas colaborativos de ensino e avaliação em EAD. Pedagogo e Técnico em Eletrônica. Trabalha na ProfSAT - TV Educativa via Satélite. Reside em Campinas, São Paulo.

jaimebalb (em) gmail (ponto) com

Marcos Silva Vieira

Professor desde 1986. Pedagogo, criou projetos de laboratórios de informática nas escolas. Coordena grupos de trabalho em educação inclusiva e uso de novas tecnologias. Faz parte de comunidades Linux voltadas a educação como Linux Educacional, Pandorga GNU/Linux dando apoio pedagógico. Palestrante e ministrante de cursos de formação em software livre educacional desde 2009. Participante e palestrante de eventos como Latinoware (foz do iguaçu), FISL (Porto Alegre), Freedom Day (novo hamburgo), Congresso Alagoano de Tecnologia de Informação - COALTI (edições em Alagoas e Pernambuco). Entusiasta de distribuições linux desde 2002.


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