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Servidores para gestão escolar

Por Jaime Nalbino

Data de Publicação: 28 de Maio de 2007

Qualquer projeto de distribuição em massa de computadores móveis para crianças e professores implica num tráfego de dados que tem que ser muito bem gerenciado. São serviços novos que os diversos perfis de usuários terão acesso, implicando em um sistema complexo e modular de gerência, interligado aos computadores móveis, à diretoria da escola, biblioteca, outras escolas, secretarias, etc...

Mesmo que as máquinas dos alunos/professores tenham a capacidade de criar uma rede sozinhas e desenvolver atividades em grupo sem necessidade de gerência externa, como é o caso do XO da OLPC, o acesso à internet e a outros serviços dentro da escola necessita de equipamentos específicos, principalmente porque essas máquininhas, por questão de custo e de racionalidade de projeto, tendem a não possuir uma grande capacidade de armazenamento, tornando também necessário sua ligação a servidores de dados para obter arquivos públicos e pessoais e até mesmo os programas necessários para a realização de alguma tarefa.

Penso que há 3 níveis de serviços que necessariamente precisam ser providos pela escola de maneira centralizada:

  • Nível 1: segurança, informação e armazenagem{br} a) Serviço de segurança, auditoria e bloqueio (relatórios de acessos, lista de sites seguros e bloqueados, notas e avaliações, etc...){br} b) Serviços de informação ao aluno e ao professor (calendário, avisos, jornal, sites e leituras sugeridas, blogs dos alunos e professores, wiki, etc...){br} c) Serviços de armazenamento (programas, arquivos públicos e arquivos pessoais){br}

  • Nível 2: a) Biblioteca Digital (e-books, catálogo de livros físicos e outros acervos){br} b) Servidor de Vídeo (videos sob demanda, programação da TV Digital Aberta, outros links){br}

  • Nível 3: a) Suporte ao ensino (Ambiente Virtual de Aprendizagem, avaliação){br} b) Planejamento do ensino (criação de aulas e colaboração entre professores){br} b) e-Portfólio (divulgação da produção dos alunos com foco na socialização){br} c) Debates e renovação constantes das metodologias{br}

Deve-se ter em mente que controle demais não significa maior segurança. A única garantia real é de uma maior burocracia para o usuário final. Por exemplo, no caso de se ter centenas ou milhares de alunos em uma única escola, não é produtivo registrar cada email ou mensagem eletrônica enviada, tendo como desculpa o monitoramento para "uso saudável da tecnologia".

Os serviços gerais descritos acima são de fato complexos, mas um modelo de implantação bem pensado permite a montagem e o bom uso deles no local da escola, a um custo extremamente baixo, compatível com as premissas para a massificação dos próprios laptops. (Eu não acho razoável trabalharmos para o barateamento para o usuário final se, no outro lado, tivermos altos custos com servidores, pessoal especializado, compra de conteúdos e gastos permanentes com conexão à internet e provedores.)

Cada escola, então, deve ter ao menos um computador que atuará como servidor que, na hipótese mais simplista, manterá os arquivos pessoais dos alunos e dará acesso a arquivos de estudo (e-books, vídeos, etc...). Também será sua função ligar estes computadores à internet, se não houver rede wirelles na região. É interessante que este servidor seja também um proxy, armazenando as páginas de internet mais acessadas pelos alunos, de maneira a otimizar o tráfego na rede externa. Tudo isso são tecnologias comuns no campo das redes, apesar de sua implementação ser avançada. Pode-se criar distribuições Linux ou FreeBSD auto-instaláveis e de administração amigável para os vários tipos de escolas, cada distribuição com uma gama de serviços pré-configurados, de acordo com as características de acesso, necessidades de software/harware, demandas e consumo de recursos que a escola deseja ou pode gerir.

Isso torna o servidor uma estrutura modular e "escalonável", isto é, novos serviços podem ser adicionados dependendo da disponibilidade de hardware, número de alunos e da capacidade física da rede. Por exemplo, se a conexão com a internet é lenta num primeiro momento, um proxy pode guardar as páginas mais acessadas e um firewall pode limitar o acesso a outras cujo excesso de uso prejudique o desempenho global da rede (baixar músicas e vídeos, por exemplo).

Para compensar a baixa velocidade da rede externa, o proxy e um repositório multimídia local teriam que ser bem dimensionados. Os dois poderiam funcionar na mesma máquina e dar conta da demanda interna da escola. A máquina para este serviço é pouco potente (talvez até 1 ou 2 XOs em paralelo dessem conta, por exemplo), mas o HD e o sistema de backup são pontos muito críticos.

Outros serviços, como banco de dados e processamento centralizado (streamming de vídeo e modelagem 3D em tempo real, por exemplo) exigem máquinas bem mais potentes ou processadores dedicados para multimídia, como placas aceleradoras de vídeo.

O que quero dizer é que serviços básicos que cobrem as principais necessidades das crianças e dos professores podem ser oferecidos de maneira imediata com servidores simples e baratos. À medidda que a escola for absorvendo novos usos e tendo novas necessidades, outros serviços mais complexos podem ser implementados, num aprendizado conjunto entre tecnologia e escola.

Arrisco a dizer que alguns alunos e seus professores podem montar o primeiro servidor e o manter, redimensionando-o para implementar os novos serviços, de acordo com as necessidades da escola. Cada nova experiência neste sentido gera um novo debate e material para outras experiências em outras escolas, compartilhadas através de um serviço para desenvolvimento colaborativo já previsto no projeto de gestão escolar.

Sobre os autores

Jaime Balbino Gonçalves

Jaime Balbino Gonçalves da Silva é Learning Designer e consultor em automação, sistemas colaborativos de ensino e avaliação em EAD. Pedagogo e Técnico em Eletrônica. Trabalha na ProfSAT - TV Educativa via Satélite. Reside em Campinas, São Paulo.

jaimebalb (em) gmail (ponto) com

Marcos Silva Vieira

Professor desde 1986. Pedagogo, criou projetos de laboratórios de informática nas escolas. Coordena grupos de trabalho em educação inclusiva e uso de novas tecnologias. Faz parte de comunidades Linux voltadas a educação como Linux Educacional, Pandorga GNU/Linux dando apoio pedagógico. Palestrante e ministrante de cursos de formação em software livre educacional desde 2009. Participante e palestrante de eventos como Latinoware (foz do iguaçu), FISL (Porto Alegre), Freedom Day (novo hamburgo), Congresso Alagoano de Tecnologia de Informação - COALTI (edições em Alagoas e Pernambuco). Entusiasta de distribuições linux desde 2002.


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