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Éramos ágeis antes disso ser cool

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 09 de Fevereiro de 2015

Recentemente retomei contato com a Pia Waugh, que conheci no inicio dos anos 2000. Não lembro, exatamente, onde nos conhecemos, mas lembro que falávamos sobre a possibilidade do software livre propiciar um ambiente de trabalho igualitariamente atrativo para mulheres e homens, reconhecendo o Clube do Bolinha que era (ainda é?) a área de tecnologia da informação. Em 2004 a Pia, então presidente da Linux Australia, participou da primeira edição da Latinoware. No mesmo ano a Joice Käfer apresentou, na LinuxConf Australia, em Adelaide, o trabalho social desenvolvido pelo grupo Gnurias, usando software livre.

A Pia palestrou na DrupalGov Canberra 2014, onde falou sobre a possibilidade de melhorar governos com software aberto e comunidades abertas. Ela conta que, na filosofia do Unix, em vez de termos Um Anel para a todos governar temos pequenas ferramentas que executam, cada uma, uma tarefa de forma excelente e que, apropriadamente combinadas, são extremamente poderosas. Ela também lembra que, no mundo do software livre, éramos ágeis antes disso ser cool. Verdade.

Em meus cursos e palestras eu gosto de ressaltar que a agilidade não é uma novidade, que a prática de métodos ágeis está embasada por anos de experiência e repertório de profissionais sérios. O Manifesto Ágil é de 2001, mas ele não brotou do nada. Em 1986 Fred Brooks Jr. publicou o artigo No Silver Bullet onde já dizia, em outras palavras, que não há um anel para a todos governar, que os lobisomens são diferentes e que não há uma bala de prata, unica, que sirva para matar todos eles. Ainda antes, em 1975, o mesmo Brooks dizia, em seu livro The Mythical Man-Month, que adicionar mais pessoas em um projeto que está atrasado tem o efeito de atrasar ainda mais o projeto. No ensaio The Cathedral and The Bazaar, apresentado por Eric Raymond em 1997, já vemos muito do que conhecemos como métodos ágeis aplicados ao desenvolvimento de software livre.

Voltando à palestra de Pia, ela diz que gostamos de desenvolver, combinar e usar ferramentas simples e que o código, para nós, é uma poesia. Em 2001, quando convidei Peter Salus para participar da segunda edição do Forum Internacional de Software Livre, ele presenteou-me com a reimpressão de 1996 do Lions' Commentary on UNIX 6th Edition, with Source Code. O livro originou-se das notas de aula do professor John Lions, em 1976. É um livro de poesia em forma de código. Assim como Pia, Lions tambem é australiano.

Não estou em uma onda de saudosismo, pelo contrário. Foi ótimo retomar o contato com a Pia e ver que a história, o repertório e a experiência nos permitem navegar bem em um oceano onde não deixam de cair, de mau jeito, paraquedistas com a mochila cheia de pretensas novidades.

Como dizia Cazuza:

Eu vejo o futuro repetir o passado @@ Eu vejo um museu de grandes novidades @@ O tempo não para @@ Não para, não, não pára

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Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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