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A morte do plano de negócios

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 11 de Agosto de 2011

Foi mais ou menos no início dos anos 1990 que comecei a envolver-me mais na criação de planos de negócios. A área de TIC, na época, parecia iniciar um caminho sem volta do abandono dos grandes computadores (os mainframes) em direção à plataforma baixa (microcomputadores em rede). Isso tudo fazia muito sentido. A internet comercial estava mostrando sua cara e a inteligência distribuída entre muitas máquinas interconectadas parecia ser algo muito mais econômico e promissor para o futuro.

Alguns problemas, claro, tinham que ser resolvidos. Naquela época, a inteligência que estava nos mainframes precisava ser, inicialmente, exposta à rede de microcomputadores em uma arquitetura cliente-servidor. Depois, com a inteligência migrando para a rede de microcomputadores, havia que se levar em conta questões de segmentação de informação, segurança e privacidade para as corporações e pessoas. Com tudo isso em mente, muita leitura, muita consultoria de empresas especializadas e muitas reuniões eram feitas para que pudéssemos colocar no papel tudo o que antevíamos para um período de três, cinco, dez anos e a visão de longuíssimo prazo daí para a frente.

Este exercício de análise do momento atual, tendências e futurologia é sempre necessário para uma boa compreensão do que queremos para nossas empresas, nossos negócios e nossa carreira. Pra mim, porém, o que é evidente é que este exercício serve fundamentalmente para que estejamos preparados para o que acontece fora do roteiro previsto.

Os grandes computadores não perderam seu espaço. Que o diga a IBM e seus grandes clientes da área financeira. Além disto, o conceito da descentralização da inteligência para computadores em rede adquiriu um perfil interessante com a evolução da estrutura cliente dos navegadores web que, ao contrário do que se esperava, hoje permite que o usuário de editores de textos, planilhas, apresentações, bases de dados, etc, prescinda de uma grande memória física em seu computador pessoal e armazene tudo o que deseja na tal da nuvem. Não coincidentemente, grande parte da estratégia da IBM hoje é posicionar-se como a fornecedora de máquinas capazes de armazenar e processar a imensa quantidade de informação presente na nuvem. Isto deve-se à grande capacidade da IBM de fazer bons planos de negócios, prevendo bem o futuro? Deve-se ao talento da empresa de adequar-se às mudanças de mercado e necessidade de seus clientes? Deve-se ao fato da empresa ter dinheiro suficiente para errar e depois corrigir o seu rumo? Ou todas as respostas anteriores? Ou nenhuma das respostas anteriores?

Usei a IBM para ilustrar este artigo por várias razões. Uma delas é que uma das tecnologias mais mencionadas em computação em nuvem, hoje, é a virtualização, algo que os sistemas operacionais da IBM introduziram há mais de 40 anos. Mas faça-se o exercício de trocar a historinha que conto acima com um outro nome de empresa, ilustrando com outra tecnologia (ou outras tecnologias), que talvez surjam outros exemplos de empresas de mesma longevidade. Será?

Mas voltemos novamente no tempo, ao início da internet comercial. Em 1995 era lançado o mecanismo de busca AltaVista, que pretendia indexar a informação existente na Internet. Dentre suas funcionalidades, o AltaVista contava com o BabelFish para a tradução automática entre idiomas e a busca não só textual, mas também usando imagens. Quantos usuários de computadores hoje ouviram falar do AltaVista? Nesta iniciativa chegaram a estar envolvidas empresas de grande porte, como a Digital, Yahoo e outras. Para ter uma ideia do posicionamento dos mecanismos de busca na web, hoje, visite a página da Alexa e desça seus olhos até encontrar os Top Sites. A Alexa permite também comparações diretas entre os vários sites e serviços da web. Nele é fácil descobrir, por exemplo, que o mecanismo de busca Baidu, especialmente feito para a China, tem mais presença que o Bing, da Microsoft. É necessário dizer qual mecanismo de busca está em primeiro lugar? Onde o Google acertou e o AltaVista errou? O Google foi feito por dois guris da Universidade de Stanford e foi lançado cerca de quatro anos depois do AltaVista. Os guris tinham mais experiência de mercado e capacidade de elaborar um plano de negócios mais eficaz do que o pessoal da Digital? Aliás, a Digital foi comprada em 1998 pela Compaq, que em 2002 foi comprada pela HP.

O segundo Top Site da Alexa é o Facebook, fundado em 2004. Verificando os dados de crescimento do Google e do Facebook dá para ver uma acirrada corrida, com o Facebook avançando fortemente em direção ao primeiro lugar. Parece que nossos tempos altamente tecnológicos dão certa vantagem aos negócios mais novos, mais ágeis na resposta à mudanças.

Em maio, no Encontro Locaweb de Profissionais de Internet que aconteceu em Porto Alegre, uma discussão que permeou o evento foi a das oportunidades no mercado de tecnologia, como conseguir investidores, como crescer e manter a competitividade. A impressão nítida que tive foi a de que o plano de negócios tradicional, em tempos de Facebook, morreu. Os investidores querem ver as ideias já em andamento para que possam "apostar" nelas. Ou seja, muito mais importante do que ficar detalhando muita coisa, é fazer e mostrar as coisas. Hoje, as tecnologias da web nos permitem criar e mostrar ideias de uma maneira muito rápida. Não participei da Campus Party, mas vi uma declaração do Julio Vasconcellos, fundador do site de compras coletivas Peixe Urbano, no evento: "A morte do plano de negócios é uma evolução natural. Hoje o seu produto é o seu próprio plano de negócios. É ele que vai atrair os investimentos, e não os números em uma planilha qualquer. Esse novo entendimento "leva o mercado a recompensar o empreendedor que não se prende ao plano, mas se joga no mercado."

Devemos gastar tempo detalhando planos e permitindo que uma boa ideia surja em outro lugar, na cabeça de outra pessoa ou empresa, ou realizar a ideia e, se for o caso, até vendê-la, consolidada e por um bom valor a uma empresa maior?

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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