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Ficção Científica? #10

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 02 de Fevereiro de 2010

Talvez pela intensidade de tudo o que acontecera em poucos dias, talvez pelo próprio fato de todos terem sido muito bem preparados para lidar com circunstâncias inesperadas, todos sentiam-se estranhamente confortáveis no planeta. Nadja, que inicialmente havia se repugnado com a ideia de ter seu corpo habitado por qualquer DNA alheio agora carregava em si um novo ser. De alguma forma, Nadja sabia dessa informação que as naves optaram por esconder e segurava firme o braço de Iran. Era bom saber o nome dele e uma verdadeira surpresa saber que este homem era mais de cinco séculos mais velho que ela. A surpresa, porém, não a incomodava. Ao contrário. Percebendo o desconforto de Iran, quando as naves mencionaram a nave na qual seu amante havia chegado ao planeta, sentiu, de imediato, uma vontade de ajudá-lo.

O capitão aproximou-se dos dois e dirigiu-se a Iran, estendendo-lhe a mão.

"Pois então você é um dos nossos. Espero que entenda que, independente de qualquer coisa, sou o capitão desta equipe e estamos neste planeta em uma missão. Aliás, você parece ter sido o único capaz de levar adiante aquilo que foi planejado para as oito missões iniciais de semeadura. Você entende o que eu digo?"

A voz de Iran saiu gutural, com dificuldade. Quando iniciara suas atividades no planeta ainda passara alguns anos falando consigo mesmo, em voz alta, numa tentativa de manter sua sanidade. Depois a conversa passou apenas para os pensamentos. Chegara a criar personagens distintos que ele mesmo representava no teatro de sua mente. Seus personagens conversavam entre si e também com ele. Mais adiante descobriria que esta era uma forma pela qual partes devidamente compartilhadas de seu cérebro mandavam mensagens para ele.

"En... ten... do. Per... dão. Não uso minha voz há muitos anos..."

"Eu posso imaginar. Vamos dar tempo ao tempo para que nossa comunicação melhore. Como você imagina e como as naves disseram, há lacunas a serem preenchidas. No momento, porém, precisamos encontrar a nave na qual você chegou. Onde ela está?

"Não há nave mais."

"Como assim? Houve um acidente? Indique-nos onde a nave pousou."

"Não há nave mais."

"Pois bem então, teremos tempo para falar sobre isto depois. G'reog, Anna!"

"Capitão!"

"Peçam que a nave envie três flutuadores ao planeta, vamos dar início à busca imediatamente."

Anna já estava fazendo algumas análises de probabilidade de localização.

"Capitão, a julgar pela área e padrão do plantio, levando em consideração que foi feito por apenas um homem, a triangulação da área de possibilidades onde podemos encontrar a nave é bastante simples. Já tracei algumas rotas de busca e um simples sensor de varredura subterrânea deve permitir que localizemos a nave em, no máximo, cinco dias da Terra."

"Iniciemos imediatamente. Anna, distribua as rotas para mim, você e G'reog. Nadja, cuide de Iran, já que já está fazendo isso mesmo. Tente buscar mais informações dele e lembre-se muito bem de seu posto e a quem você deve obediência. Quanto a você, meu amigo, espero que realmente esteja colaborando conosco. Por enquanto você tem o benefício de minha dúvida e minha simpatia pelo que foi capaz de fazer aqui."

Em minutos os três flutuadores chegaram à superfície e as buscas começaram. Nadja e Iran já se comunicavam, mesmo sem pronunciar uma palavra um ao outro.

-oOo-

Nadja estava dentro da mente de Iran. Sua sensação era a de estar em uma mansão, apenas com algumas poucas portas abertas. Iran a fazia sentir que as informações e pensamentos aos quais ela não tinha acesso eram para sua proteção. Nem mesmo ele tinha acesso a todas as portas, mas percebia que, a partir de agora, encontraria mais chaves e uma maior compreensão daquilo que desvelava-se como a sua verdadeira missão desde que começara sua história no planeta. Por vários momentos conversava, em sua mente, com Freitas. Lembrava-se do compartimento de sua mente onde guardava um segredo e sabia que, em um momento oportuno, ele viria a tona. Ele precisava de Nadja e precisava confiar nela. A melhor forma que encontrou para isto foi permitir a Nadja saber dele o máximo que podia revelar, ganhando sua cumplicidade e preservando-a dos perigos. Os sensores das naves em órbita eram onipresentes e ambos já imaginavam que a fecundação de Nadja não era segredo para elas. O capitão e os demais também deviam ser tratados com cuidado. A própria situação em que se encontravam já era um campo fértil para desconfianças. Tais desconfianças deveriam ser guiadas para um lugar muito distante, ainda por um bom tempo, de onde as verdades encontravam-se.

Assim que não podia mais ser ouvido o zunido dos flutuadores, Iran tomou Nadja pela mão e guiou-a vegetação adentro. Após pouco mais de uma hora de rápida caminhada, sob a sombra de uma imensa árvore, Iran afastou uma raiz que dava passagem para uma estreita entrada subterrânea. Desceram alguns poucos metros até entrarem em uma câmara que Nadja logo reconheceu como a nave que havia trazido Iran ao planeta. Em seu pensamento ouviu Iran dizer a sua nave: "Reuben, estamos aqui!"

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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