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Ficção Científica? #8

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 02 de Setembro de 2009

(Leia também os capítulos anteriores)

Atingir o estado multiconsciente descrito por Ziembinski era, em tese, algo perfeitamente possível. Já é sabido que usamos, quando muito, 15% de nossa capacidade cerebral. A experiência já mostrava que, com o devido treino e o acompanhamento apropriado do comportamento através de imagens, é possível exercitar e aprimorar áreas específicas do cérebro. Da mesma forma que um halterofilista observa seus bíceps e tríceps enrijecerem com o levantamento de pesos, é possível, agora, ver quais áreas do cérebro devem ser exercitadas para a melhoria do raciocínio abstrato ou para adquirir maior sensibilidade artística. Ziembinski preconizava que qualquer pensamento, memória ou sensação não estariam presos a áreas específicas do cérebro, podendo ser movidos, com o devido treino, a outras áreas. Uma primeira prova desta possibilidade foi dada pelo próprio Ziembinski, na experiência conhecida como "a prova Paganini". Ziembinski propôs que fizessem imagens de seu cérebro enquanto ouvia o Capricho n.o 24 de Paganini. Ele narrava: "Agora vou ouvir com meu córtex direito, agora com o lobo parietal..." As imagens comprovavam o que Ziembinski narrava. Por muitos, as experiências de Ziembinski eram consideradas uma fraude. Estes acreditavam apenas que o treino cerebral de Ziembinski era tal que, de fato, o que acontecia é que ele tinha um controle "pirotécnico" das áreas de seu cérebro que os monitores mostravam iluminadas. Tais críticas nunca abalaram Ziembinski, que seguia exercitando e teorizando sobre novas possibilidades. Em um de seus últimos escritos antes de "desligar-se", dizia:

"É possível, com exercícios apropriados, criar um espelho da mente. Não é necessário esperar um acidente para que passemos a usar espaço antes subaproveitado de nosso cérebro para recuperar funções intelectuais ou motoras. Minha recuperação provou a capacidade de recuperação do cérebro ativando certas áreas para executarem funções que estavam sob responsabilidade daquela parte de meu cérebro que acidentalmente decepei. A experiência Paganini mostrou que posso deleitar-me com uma música usando uma ou outra parte de meu cérebro. Eu poderia provar, com a mesma facilidade, que toco meu violino usando o lado esquerdo ou direito do meu cérebro para controlar minhas mãos. O que quero provar agora é que posso criar uma mente paralela em meu cérebro, capaz de executar todas as funções de minha mente original, e que posso usar uma ou outra a meu bel-prazer, ainda sobrando-me 70% do meu cérebro a ocupar. Posso criar uma terceira, ou mesmo uma quarta mente neste espaço restante. Poderia utilizá-las alternada ou simultaneamente, compartilhando ou não memórias entre elas. Poderei ter uma mente lendo um livro, acumulando memórias, enquanto com outro delicio-me com Paganini e com a terceira, simultaneamente, faço o processo mecânico de construir um móvel, sem a necessidade de acumular memórias de processos manuais que já domino."

Muitos acreditam que o "apagamento" de Ziembinski foi fruto de uma tentativa frustrada de ativar uma segunda mente paralela. Uma determinada corrente religiosa defendia que a mente tinha seu par em uma única alma e que, ao tentar criar uma nova mente, Ziembinski havia atentado contra sua própria alma imortal. Iran tinha muita desconfiança e mesmo medo dos exercícios aos quais se submetia, mas Freitas o incentivava a continuar. "É por um bem maior."

A sensação que tinha era a de um sono consciente no qual ele espectador via exatamente tudo o que fazia sem poder interferir. Sabia que sua nova mente, recém finalizada, exercia o controle e as ações exatas que a mente original faria, alimentando devidamente sua memória. Era como se, nesse sonho, pudesse ler todos os pensamentos de um outro "eu" exterior. Mas não era sonho e Iran sabia disso. A sensação seguia a mesma quando colocava a mente original no controle e então era a nova mente que tinha a sensação de sonho. Em todos os sentidos, as duas mentes ocupando seu cérebro eram indistinguíveis. Bastava agora conseguir colocar uma das mentes em um estado dormente, estacionário, mas capaz, ainda assim, de acessar novas memórias criadas pela mente ativa no momento em que a alternativa novamente despertasse. Não tardou para que Iran atingisse a disciplina necessária para isto. Restava saber se a mente latente poderia retomar o controle depois de anos adormecida em uma missão interplanetária, mas apenas a prática diria isso pois não havia mais tempo para testes.

"Boa noite, velha amiga", pensou silenciosamente Iran momentos antes de ter seu cérebro acoplado ao da nave.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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