Introdução
A educação é o setor, segundo diversos especialistas, que oferece o maior
potencial de crescimento nos próximos anos. A iniciativa privada vem
explorando diversas possibilidades nesta área, estabelecendo parcerias
e lançando raízes em um mercado em expansão e com necessidades nas mais
diversas áreas, desde a educação formal a cursos profissionalizantes.
O uso do computador na educação, seja em cursos totalmente a distância
como em cursos onde o computador é apenas um item a mais, propiciando
um melhor acesso a professores, material didático e outras atividades,
é sem dúvida alguma imprescindível.
A tecnologia e a infraestrutura necessária para o emprego de computadores
na educação, dependendo da solução adotada, pode se tornar proibitiva,
gerando mais um fator de exclusão. Somente instituições com elevados
recursos financeiros para investimento nesta área poderiam oferecer a
seus alunos acesso a esta tecnologia fundamental nos dias de hoje.
O software livre, embora não seja uma solução universal, pode contribuir
significativamente para a disseminação e uso em larga escala de soluções
eficientes e de baixo custo para a educação, a distância e mediada
por computador.
A quantidade de relatos do uso bem sucedido do software livre em escolas
e universidades são prova da viabilidade desta alternativa. Apesar do
preconceito em geral contra o emprego de soluções baseadas em software
livre para a educação em geral, os casos de sucesso são numerosos
e representam uma prova eloqüente de sua viabilidade.
O software livre na educação
Ao considerarmos o uso de computadores na educação, temos que considerar
diversos fatores, como hardware, software, infraestrutura de redes e
recursos humanos.
A seguir, fazemos uma análise de todos estes aspectos considerando soluções
proprietárias e livres.
Hardware
Os sistemas operacionais proprietários modernos, para garantir
um fluxo de receitas financeiras constante, precisam criar em
seus usuários a percepção de que as constantes atualizações são
necessárias. Conseqüentemente tornam-se pesados e carregados de
penduricalhos tecnológicos desnecessários e não utilizados.
Uma conseqüência perversa desta necessidade mercadológica que as empresas
de software enfrentam é a criação de sistemas operacionais viáveis apenas
em computadores de última geração, fora do alcance da maioria das escolas
e universidades públicas.
Sistemas operacionais livres, por outro lado, têm como preocupação central
a funcionalidade e eficiência. Tradicionalmente podem ser empregados em
um amplo espectro de computadores, dos mais antigos aos mais modernos.
Laboratórios de ensino, servidores Web, servidores de email e muitos
outros serviços, podem ser criados de forma rápida e simples, com recursos
já disponíveis.
Apenas para citar um exemplo nesta linha, o Centro de Pesquisas Agrícolas
da Unicamp, CEPAGRI, até pouco tempo atrás hospedava seu servidor Web em
um computador modelo 486, 33MHZ, com 16 MB de memória RAM. O CEPAGRI todos
os dias tem uma exposição na televisão fornecendo a previsão do tempo para
a repetidora da rede Globo, e contabiliza milhares de acessos diários. Seu
servidor Web, além de fornecer a previsão do tempo, disponibiliza também
imagens de satélite para download. Um fator a ser lembrado é que com
a rápida evolução dos sistemas livres, a instalação e configuração de
um servidor Web pode ser feita com pouquissima intervenção por parte do
usuário, com a maior parte do processo sendo totalmente automatizado. Este
serviço roda hoje em um computador 486/66MHZ, com 32 MB RAM.
No México, temos o projeto RedScolar, que tem como principal objetivo
criar laboratórios de ensino em escolas públicas empregando software
livre. Este projeto desenvolveu uma versão adaptada do sistema Red Hat
Linux, que permite a auto-instalação e oferece uma configuração voltada
para as necessidades pedagógicas das escolas.
Na Austrália temos o projeto [ComputerBank http://www.computerbank.org.au que fornece sistemas baseados em
GNU/Linux para famílias de baixa renda, organizações comunitárias e
escolas com poucos recursos financeiros. Contando principalmente com o
trabalho de voluntários, este projeto já conta com filiais em diversas
partes da Austrália. São utilizados neste projeto computadores tão
antigos como os 386.
Software
A grande questão do emprego de software proprietário na educação reside
em seu custo. Em países como o Brasil, onde mesmo itens básicos como
energia elétrica, para muitas escolas, são um sonho distante, o que
dizer então da necessidade de investimento em software, além do hardware?
Somando-se o custo do hardware ao custo do software, o custo de um
computador pode chegar facilmente a R$ 4.000,00 ou R$ 5.000,00.
Tais valores, por si só, inviabilizam a maior parte dos projetos para
informatização de escolas.
Além do custo em si, temos que considerar outros fatores importantes:
- Liberdade
Soluções baseadas em software proprietário dificilmente permitem a sua
adaptação à realidade de diferentes países, estados, cidades e até mesmo
bairros. O uso de computadores e a montagem e manutenção da infraestrutura
necessária, requerem a disponibilidade de especialistas. O projeto
RedScolar no México, por exemplo, fez alterações no sistema operacional
Red Hat Linux, de forma a viabilizar a sua instalação rápida e simples,
mesmo por pessoas com pouca familiaridade com computadores. Dificilmente
uma empresa que comercializa sistemas proprietários iria permitir tais
modificações, visto que o acesso ao código fonte é impossível.
Adicionalmente, novos projetos são muito difíceis de serem iniciados
devido à necessidade de novos investimentos, frequentemente fora do
alcance da maioria das instituições de ensino.
A Biblioteca Central da Unicamp utiliza o software htdig para fornecer
acesso à sua base bibliográfica. A solução com htdig emprega um computador
desktop com GNU/Linux, com apenas 128 MB de memória RAM. Esta solução
foi desenvolvida em menos de uma semana e só foi possível graças ao emprego
de software livre. O sistema de consulta ao acervo das bibliotecas da Unicamp
encontra-se em http://www.unicamp.br/bc.
- Suporte Técnico
Um dos mitos mais difundidos a respeito do software livre é a falta de
suporte técnico. Gerentes de informática em geral receiam utilizar uma
tecnologia baseada em software que não possuem um representante legal,
que possa ser acionado conforme necessário.
Hoje em dia isto não é verdade. Temos diversas empresas de renome, como
IBM, HP e a Conectiva, que oferecem suporte de altissíma qualidade para
sistemas Linux. Além do suporte formal, que pode ser contratado junto
a estas empresas, temos também o suporte da comunidade de usuários,
também de alta qualidade. A Unicamp hospeda o sistema Rau-Tu de Perguntas
e Respostas, inteiramente mantido por voluntários, e que oferece respostas
rápidas para praticamente qualquer dúvida em sistemas GNU/Linux.
- Dependência Tecnológica
Um dos grandes problemas que muitas empresas enfrentam é a dependência
tecnológica de soluções de hardware e software proprietárias. O custo
para a manutenção destas estruturas é extremamente oneroso. Uma vez
estabelecida a dependência é extremamente difícil se livrar dela sem
investimentos altissimos.
A empresa WebCT, líder mundial no ramo de educação a distância, conseguiu
atingir sua posição atual oferecendo um pacote de custo acessível e de
boa qualidade. Em 2001, com sua posição consolidada no mercado, realizou
um reajuste substancial em sua tabela de preços. Muitas instituições de
ensino não terão outra alternativa a não ser buscar estes recursos de
qualquer forma, visto já estarem totalmente dependentes. Estes recursos
frequentemente terão que ser desviados de outras áreas, com grande
prejuízo institucional.
A adoção de soluções livres e abertas nos salva deste pesadelo
tecnológico. Temos hoje diversos projetos para educação a distância
baseados totalmente em software livre. A Unicamp tem o projeto TelEduc,
desenvolvido na linguagem PHP e com o banco de dados MySQL. Este ambiente
está sendo utilizado na UnB, no Instituto Phenix, na PUC/SP, na UCPEL
e em diversas outras instituições. Mais informações sobre o TelEduc
podem ser encontradas em http://teleduc.nied.unicamp.br/.
Temos também o ambiente Manhattan,
que teve a sua tradução para o português feita pela Universidade Federal
de Lavras.
Infraestrutura de Redes
Também na montagem da infraestrutura de redes o software livre pode trazer
sua contribuição. Na parte de roteamento, existem soluções que permitem
que computadores como 486, com o sistema GNU/Linux em um disquete,
realizem funções de roteamento. A contratação de conexão à Internet
de alta velocidade, oferecidas por diversas empresas de telefonia,
pode prover soluções de baixo custo para escolas e universidades a
laboratórios de ensino e salas de aula.
A configuração é extremamente simples visto que em caso de problema com
algum equipamento basta substituí-lo e inserir o disquete com o sistema
para tudo voltar ao normal.
Recursos Humanos
Soluções baseadas em software livre requerem especialistas, porém podem
ser mantidas e implementadas de forma consideravelmente mais rápida,
por equipes substancialmente menores que suas equivalentes proprietárias.
A maior parte das distribuições GNU/Linux modernas oferecem um processo
de instalação rápido e simples. Além disto estes sistemas oferecem
recursos para instalação automática, que permitem a rápida duplicação
de configurações.
O trabalho de administração diário também é consideravelmente reduzido.
Distribuições como a Conectiva Linux oferecem um sistema de atualização
pela Internet que permite a instalação e atualização de forma bastante
simples e rápida.
Adicionalmente, sistemas baseados em GNU/Linux e outros sistemas livres,
são livres de vírus. O gerenciamento de ambientes expostos a centenas de
novos vírus semanalmente requer recursos humanos consideráveis e geram
um impacto tremendo em qualquer organização.
Conclusão
O emprego de software livre na educação é uma alternativa imprescindível a
qualquer projeto educacional, tanto no setor público como privado. Fatores
tais como liberdade, custo, flexibilidade são estratégicos para a condução
bem sucedida de projetos educacionais mediados por computador.
Apesar do preconceito que cerca o software livre, disseminados em sua maior
parte por pessoas ou empresas a quem este modelo é prejucial, existem diversas
instituições, muitas delas de renome, baseando toda sua estratégia de negócios
ao redor de software livre.
Para o setor educacional, muitas vezes carente de recursos, o software livre
é uma alternativa viável e que deve ser considerada seriamente.