De acordo com as Leis 12.965/2014 e 13.709/2018, que regulam o uso da Internet e o tratamento de dados pessoais no Brasil, ao me inscrever na newsletter do portal DICAS-L, autorizo o envio de notificações por e-mail ou outros meios e declaro estar ciente e concordar com seus Termos de Uso e Política de Privacidade.
O prazer de compartilhar
Colaboração: Rafael Evangelista
Data de Publicação: 20 de Novembro de 2004
Estudo mostra que aqueles que baixam filmes e músicas na internet querem mais do que obter acesso gratuito à cultura, querem oferecer e colaborar
Eles não têm olho de vidro, perna-de-pau e nem andam com
um papagaio no ombro. Mesmo assim a indústria da música e
do cinema insiste em chamá-los de piratas e em afirmar que
são os grandes vilões da internet. Mas um estudo publicado
neste mês pela revista eletrônica /First Monday/ mostra
justamente o contrário. A motivação dos usuários de programas
de compartilhamento de arquivos como o Kazaa e o SoulSeek -
que permitem que você baixe os arquivos de música e vídeo de
outros e ofereça os seus - não estaria só em pegar arquivos de
graça mas também em "presentear", em compartilhar seu acervo
com outras pessoas. Por isso, não basta que a indústria crie
mecanismos tecnológicos para que as pessoas usufruam legalmente
de bens culturais na Internet; será preciso também levar em
conta o desejo que elas têm de ajudar e oferecer arquivos
a outros.
A conclusão é de Kevin McGee e de Jorgen Skageby, pesquisadores
da Universidade de Linkoping, na Suécia, e autores do artigo
"Gifting Technologies". Por seis meses, ambos frequentaram e
analisaram listas de discussão de usuários dos sistemas P2P -
sigla para ponto-a-ponto, a tecnologia que permite a troca
direta de arquivos na internet - e entrevistaram mais de 100
desses usuários. O objetivo era buscar entender o fenômeno da
troca de arquivos na rede a partir da perspectiva da dádiva,
ou seja, de trabalhos anteriores que falam da troca ou do ato
de dar presentes como um fenômeno social. O que os autores
descobriram é que não é possível reduzir a ocorrência da
dádiva na internet - que acontece nos programas de P2P -
nem a um "roubo", em que as vítimas são os detentores dos
direitos autorais, nem meramente a uma troca interessada,
em que os sujeitos só compartilham porque estão interessados
também em baixar arquivos.
Indústria age com truculência
Nos últimos dois anos, a indústria do entretenimento tem
promovido uma verdadeira cruzada contra os usuários dos
programas de P2P. As ações vão desde multas até a prisão e
os métodos incluem a espionagem eletrônica de usuários. A
onda de processos movida pela indústria da música começou em
setembro de 2003 e, até agora, pelos cálculos da EFF (Fundação
da Fronteira Eletrônica, entidade que luta pela legalização
do compartilhamento de arquivos) já são mais de 6 mil ações
legais. No início deste mês, a indústria do cinema anunciou que
deverá seguir os passos das gravadoras e também iniciará uma
onda de processos. "Ações contra os usuários não significam
o pagamento de direitos aos artistas. Nós precisamos de uma
solução construtiva. Os compartilhadores são mais de 60 milhões,
só nos EUA, um número maior de pessoas do que o que elegeu o
atual presidente", diz a EFF.
Os efeitos dos processos movidos pela indústria puderam ser
sentidos pelos pesquisadores suecos. Ao tipificar os diversos
grupos de compartilhadores ele encontraram a figura do que
chamaram de "presenteadores amedrontados". Esse grupo ofereceria
seus arquivos de uma forma mais selecionada, escolhendo aqueles
que podem receber ou quais arquivos serão compartilhados. "O
mais surpreendente é que esse tipo de ação não seria motivado
pelo medo de serem pessoalmente alvo de processo mas pelo medo
de que os mecanismos de compartilhamento sejam ameaçados",
dizem os pesquisadores. Eles encontraram casos de pessoas
que deixaram de compartilhar arquivos sujeitos aos direitos
autorais da indústria.
Muito mais do que uma troca interessada
As características dos diversos grupos de compartilhadores
permitem dizer que a atividade vai muito além do "é dando que
se recebe". Vários teriam motivações ideológicas, acreditando
não só que a "informação tem que ser livre", mas em um certo
"espírito do compartilhamento". Os pesquisadores afirmam
também que muitos dos que aparentemente oferecem seus arquivos
apenas para poderem conseguir músicas ou filmes de outros (a
chamada pseudo-dádiva), na verdade são bastante benevolentes
com aqueles que não compartilham nada. Ou seja, depois de
bloquearem aqueles usuários que claramente não oferecem nada
em troca - os chamados de sangue-sugas - os compartilhadores
voltam a oferecer seus arquivos para a comunidade.
Foram encontrados, inclusive, alguns usuários que ajudam outros
que tenham um gosto parecido com o do compartilhador ou que
estão em dificuldades. Quando encontram alguém que tem uma
conexão muito lenta e que vai levar muito tempo para conseguir
um arquivo, eles deixam seus computadores ligados por horas,
só para que a conexão do receptor não seja cortada. Ou ainda
oferecem a quem está baixando uma música, por exemplo, outros
arquivos de estilo semelhante ao que está sendo enviado.
"Quando você compartilha algo com alguém você o faz não porque
espera algo em de volta... Quando você quer algo do outro
isso é uma troca", declarou um dos entrevistados. Para os
pesquisadores, há nos mecanismos de oferecimento de arquivos
algo que vai além do que tem sido notado até hoje e que mistura
altruísmo e ideologia. Mesmo que a indústria crie mecanismos
poderosos e acessíveis para que bens digitais sejam adquiridos,
essas iniciativas falharão se o espírito do compartilhamento
não for levado em conta.
Leia (em ingês):
First Monday - Gifting technologies
Oferta de Estágio Laboratório de Jornalismo da Unicamp
O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da
Unicamp está oferecendo uma vaga de estágio destinada a aluno
de qualquer curso de graduação para: montagem de páginas HTML,
administração de rede e manutenção em máquinas Windows e Linux.
É interessante que o candidato tenha, preferencialmente,
conhecimento sobre as distribuições GNU/Linux REd Hat e Debian
e noções de programação em PHP. A bolsa é de, aproximadamente,
R$ 900,00.
Os currículos devem ser enviados para <mmoraes (a) unicamp br> até
25 de novembro.