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Capturando e-mails da rede interna com mailsnarf
Colaboração: Edson Marco Ferrari Junior
Data de Publicação: 09 de Janeiro de 2008
Em um ambiente profissional, a empresa tem a necessidade e a obrigação de
controle de todos os dados que trafegam em sua rede. Empresas que tercerizam o
servidor de e-mail, tem algumas dificuldades de implantarem um maior controle
em relação ao e-mail.
Com o Mailsnarf é possível ter uma cópia de todos os e-mails que são enviados
ou recebidos e posteriormente baixá-los em seu gerenciador de e-mails.
Para isto será necessário que os e-mails sejam divididos em arquivos, e
depois um servidor pop para baixar estes e-mails. Como servidor pop iremos
utilizar o courier-pop.
Antes de começar este artigo devo avisar que não se deve abusar deste serviço.
Em qualquer que seja a situação todos os usuário devem estar cientes que
seus e-mails estão sendo capturados, e isto deve ser por escrito.
1. Justificativa
A empresa ao fornecer recursos de informação aos seus funcionários visa
otimizar a comunicação e o controle das informações. Toda e qualquer informação
que chegue a empresa é de sua propriedade. O funcionário em seu setor é um
representante da empresa.
Este paragráfo foi baseado no artigo Controle de Acesso à internet pelas empresa X Direito de privacidade, de Osmar Lopes Junior.
A empresa tem o direito e o dever em manter o controle sobre a utilização dos recursos de informação que possui. A Negligência na Vigilância estende a culpa dos atos do funcionário até a empresa.
Outro ponto polêmico é a questão da "Negligência na Vigilância", uma vez que "a culpa do responsável consiste em não haver exercido, como deveria, o dever de vigiar, de fiscalizar ou de não haver retirado do serviço ou de haver aceito quem não podia exercer com toda correção o encargo". (Pontes de Miranda).
Baseado no artigo de Marcio Cots Não existe privacidade no trabalho
2. O Mailsnarf
É um programa que captura todos os dados que trafegam pelas portas 25,110 e
1109, este último é referente ao KPOP (A única coisa que encontrei na web sobre
o Kpop foi música coreana, se alguem souber fique a vontade para esclarecer).
O Mailsnarf faz parte do pacote DSniff, que contém váriados tipos de programas
de captura. Para você obter mais informações e download do DSniff visite
o site: http://monkey.org/~dugsong/dsniff/
2.1. Funcionamento
Este programa exibe em tela todos os e-mails capturados. Bom para testes ou
para uma rápida verificação. A execução do programa é extremamente simples,
mailsnarf
Somente com a chamada, ele irá capturar todos os pacotes de e-mails que
estão trafegando pela eth0. É possível definir qual interface de rede se
deseja capturar através da flag "-i"
mailsnarf -i eth1
Isto é muito interessante pois desta forma você poderá definir que somente
quer capturar os pacotes que irão para o seu provedor, caso você também
possua um servidor de e-mail para a rede interna.
Também será muito útil quando se for fazer o download dos e-mails, como eles
são feitos via pop, você irá gerar um ciclo vicioso se o mailsnarf estiver
escutando os pacotes da sua interface interna.
Também é possível a utilização de expressões regulares para a
captura de pacotes. Excelente opção para se filtrar o que deve
ser capturado, obtenha informações sobre esta funcionalidade em:
http://downloads.openwrt.org/people/nico/man/man8/mailsnarf.8.html
mailsnarf -i eth1 pattern [expressão]
2.1.1. Salvando em arquivo
Como o mailsnarf imprime em tela todo os e-mails, é possível que redirecione
todo a sua saída para um único arquivo.
mailsnarf -i eth1 > /path/arquivo
Isto é bom para que você possa manter um histórico sobre os e-mails enviados
e recebidos em sua rede.
O problema disto que é todos os e-mails estarão em um único arquivo, e
dependendo do tamanho da rede, este arquivo ficará grade, e será dificil
analisá-lo.
Outro problema são os anexos, não haverá como visualizá-los, pois estarão
em formato caracter no arquivo, e dificultarão a verificação dos e-mails.
3. O problema
Temos todos os e-mails em um único arquivo. A leitura destes e-mails é muito
dificil, primeiro pelo seu tamanho, e depois por que todos os e-mails estão
nos fontes.
Há a necessidade de se melhorar isto. Pesquisando soluções na internet,
encontrei comentários sobre direcionar o arquivo para um diretório de pop
e fazer o download via gerenciador de e-mail, ou visuáliza-los em um webmail.
O problema é como dividir estes e-mails em arquivos separados e salvá-los
no diretório de e-mail do usuário desejado.
4. Solução
Para resolver este problema é usado a liberdade oferecida pelo Código
Aberto. Pegamos o fonte e alteramos o programa para a situação que nós
precisamos.
5. Baixando, descompactando e acessando os fontes
Como o mailsnarf faz parte do pacote dsniff, faça o download do pacote
completo pelo site deles http://monkey.org/~dugsong/dsniff/
Descompacte o pacote
tar -xzvf dsniff-2.3.tar.gz
Lendo README, ou, nas mensagens do ./configure,
será verificado que o
pacote dsniff possui algumas dependências:
these programs require:
Berkeley DB - http://www.sleepycat.com/
OpenSSL - http://www.openssl.org/
libpcap - http://www.tcpdump.org/
libnids - http://www.packetfactory.net/Projects/Libnids/
libnet - http://www.packetfactory.net/Projects/Libnet/
Baixe-as e instale-as. Usuários Debian contam com a facilidade
apt-get build-dep dsniff
Ele fará o download e instalação de todas as dependências do pacote dsniff,
mas não irá baixar o dsniff.
Acesse o diretório dsniff-2.3. Para aqueles que utilizam o debian irão acessar
o diretório dsniff-2.4 se fizeram o download dos fontes de www.debian.org.
Vamos abrir o fonte do mailsnarf.
vi mailsnarf.c
6. Localizando e editando a função responsável por imprimir em tela
Apesar de não estar comentado, é um código simples, então o entendimento será fácil.
Na linha 88 inicia a nossa função procurada
static void
print_mbox_msg(char *from, char *msg)
{
char *p;
time_t t;
t = time(NULL);
if (from == NULL)
from = "mailsnarf";
printf("From %s %s", from, ctime(&t));
while ((p = strsep(&msg, "\n")) != NULL) {
if (strncmp(p, "From ", 5) == 0)
putchar('>');
for (; *p != '\r' && *p != '\0'; p++)
putchar(*p);
putchar('\n');
}
putchar('\n');
fflush(stdout);
}
6.1. Entendendo a função
Esta função recebe como parametros o remetente, e o fonte de todo o e-mail.
É feita uma verificação para caso não haja um from, isto acontece quando
o e-mail é enviado. Mas o from do e-mail é mantido, isto é apenas uma
informação adicional.
É impresso o from e a data e hora do momento da captura.
Neste loop while, será impresso caracter a caracter da mensagem na tela.
Para finalizar e separar um e-mail do outro é impresso ao final da função um
"\n" e depois é limpo o buffer de video.
6.1.1. Alterando o fonte
Não será necessário adicionar nenhuma biblioteca ao arquivo. Vamos adicionar
algumas variáveis e redirecionar a saída para o arquivo. Simples assim!
Eu não criei outra função simplesmente redirecionei a saída da função original.
static void
print_mbox_msg(char *from, char *msg)
{
/*
* Foi declarada uma variável global
* de nome cont.
* int cont = 0;
*/
char *p;
time_t t;
FILE *fl; //ponteiro para o arquivo
/*
* Neste ponteiro char, armazenaremos o
* diretório onde iremos salvar nossos
* arquivos.
*/
char *dir = "/home/edmafer/Maildir/new/";
/*
* path será a concatenação do diretório
* com o nome do arquivo.
*/
char path[30];
t = time(NULL); //Pegando a data e hora de agora
/*
* Estamos concatenando em path, o diretorio
* o nome do arquivo, e a extensão eml
* e incrementa 1 em cont
*/
sprintf(path,"%s%d.%s",dir,cont++,"eml");
fl = fopen(path,"w"); //Abrindo o arquivo para escrita
if (!fl) { //Verificando se houve erro ao abrir
printf("\n<!>Erro ao tentar criar arquivo<!>\n");
return;
}
if (from == NULL) //Definindo o from
from = "mailsnarf";
fprintf(fl,"From %s %s", from, ctime(&t)); //Direcionando para o arquivo com data
while ((p = strsep(&msg, "\n")) != NULL) { //Todas as saidas para o arquivo
if (strncmp(p, "From ", 5) == 0)
putc('>',fl);
for (; *p != '\r' && *p != '\0'; p++)
putc(*p,fl);
putc('\n',fl);
}
putc('\n',fl);
fflush(stdout); //Limpando buffer de tela (pra que? Não sai mais nada lá)
fclose(fl); //Fechando o arquivo
}
6.1.1.1. Analisando o código alterado
Adicionamos ao código, um ponteiro para o arquivo, um ponteiro char com o caminho do diretório onde será salvo os arquivos e um char[30] que receberá o caminho do diretório e o nome do arquivo. Também foi declarada a variável global cont, esta será responsável por ser o contador dos arquivos.
int cont = 0;
FILE *fl;
char *dir = "/home/edmafer/Maildir/new/";
char path[30];
Com sprintf nós adicionamos a path um string formatada com os valores das outras strings.
sprintf(path,"%s%d.%s",dir,cont++,"eml");
A abertura do arquivo para escrita.
fl = fopen(path,"w");
E agora o redirecionamento da saída do programa.
A função fprintf que é similar a printf, com a diferença que redireciona para um arquivo.
fprintf(fl,"From %s %s", from, ctime(&t));
Da mesma forma putc é similar a putchar, só que redirecionando para um arquivo.
putc(*p,fl);
E finalizando fechamos o arquivo
fclose(fl);
6.1.1.1.1. Compilando
Após editado o fonte e salvo o arquivo, vamos compilar.
Compilei todo o pacote dsniff, para isto
./configure
make
Não é necessário utilizar o make install, pois o mailsnarf já estará pronto para execução.
7. Instalando o servidor pop
Utilizando o courier, para usuários debian o courier-pop.
Download e manual do courier: http://www.courier-mta.org/
Usuários debian
apt-get install courier-pop
Eu não alterei a configuração padrão do courier. A instalação foi feita
pelo apt-get do Debian, e o servidor somente aceita a conexão de um host
específico, então não me preocupei com outras seguranças. Verifique o manual
do courier para mais informações de configuração.
Feita a instalação do mesmo, somente precisamos criar o diretório de e-mails para o usuário
maildirmake /home/usuario/Maildir
Agora é só configurar o gerenciador de e-mail
login: usuario_linux
senha: senha_linux
pop:ip_servidor do courier.
Os e-mails serão iguais aos recebidos pelos usuários da sua rede, no campo
from é quem enviou e no campo to para quem é destinado. Os anexos estarão
disponíveis, da mesma forma como se o e-mail fosse direcionado para você.
8. Executando o mailsnarf
Como ele se trata de apenas um executável, você simplesmente tem que chamá-lo
e definir alguns argumentos
mailsnarf -i eth1
Eu coloco sempre como exemplo a eth1, para diferenciar justamente a questão
da definição da interface de rede, mas isto deve ser definido pelo seu esquema.
Para colocá-lo em daemon, é necessário somente adcionar o "&" ao final da
chamada do comando
mailsnarf -i eth1 &
É possível verificar a sua execução pelo comando ps aux
ps aux | grep mailsnarf
E isto irá te retornar
BOSS:/# ps aux | grep mailsnarf
root 18962 1.0 5.7 47488 28004 ? S Apr19 13:41 mailsnarf -i eth1
root 24902 0.0 0.1 1852 728 pts/2 S+ 13:19 0:00 grep mailsnarf
BOSS:/#
Para sempre iniciáliza-lo com o sistema, adicione esta chamada em /etc/init.d/rc.
Ou leia o artigo de Rubens Queiroz de Almeida para uma melhor configuração
de inicialização http://www.dicas-l.com.br/dicas-l/20060127.php
9. Conclusão
Este é um sistema de controle, que justifico sua necessidade no início do
artigo. Lembro que o meu objetivo era o controle de e-mails, e não montar
um servidor robusto de pop, a segurança deste servidor eu deixei por conta
do iptables, onde libero acesso somente de host específico.
Acredito que a justificativa possa vir a gerar algumas discussões, mas o
escopo não é discutir se é ético ou não este controle. Ensinei como se faz,
se deseja utilizar ou não a opção é da instituição onde você trabalha.
A distribuição utilizada foi o Debian Sarge 3.0. Peço desculpas a usuários
de outras distribuições que eu possa ter deixado faltar algumas informações
específicas.