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Colaboração: Anahuac Gil
Data de Publicação: 12 de janeiro de 2016
Iniciei os caminhos do Software Livre em 1995, mas levei alguns anos para entender, me livrar dos conceitos formados anteriormente e adotar a filosofia GNU como norteamento profissional e social. Você pode até achar que sou louco, mas na verdade todos fazem isso, de forma consciente ou não. Qual rumo você vai dar a sua vida, qual caminho escolher e quais formatos, métodos e valores vai adotar como forma de vida. Alguns serão mais comerciais, outros mais religiosos, outros mais ecológicos, outros mais engajados e outros, apesar de não se definirem, serão levados a se definir pelo comportamento da maioria.
Faço parte do Movimento Software Livre brasileiro desde o seu nascimento. Vi seus ídolos surgirem, passarem, mudarem e até se antagonizarem ao próprio movimento. Fiz parte do grupo majoritário que a partir de 2004 decidiu abraçar, também, os conceitos OSI para facilitar a adoção do GNU+Linux no meio empresarial e governamental. O objetivo de tornar o Software Livre mais palatável sempre foi o de aumentar sua adoção. Se uma empresa ou governo adotassem o GNU+Linux as pessoas seriam apresentadas ao fantástico sistema operacional e suas vantagens técnicas e ideológicas. Isso provocaria uma reação em cadeia que levaria as pessoas a adotar o GNU+Linux, também em casa e eventualmente fazer pressão de mercado por dispositivos compatíveis e obviamente, um revolução estaria em curso. Essa foi uma tendência seguida por 9 entre 10 militantes e simpatizantes do Software Livre e vem se arrastando até hoje.
Fomos absurdamente inocentes. Realmente acreditamos que jogaríamos esse jogo, sob as regras do mercado, no campo do mercado e ainda assim ganharíamos. Fomos cooptados como movimento e o Software Livre, lentamente, foi convertido de um posicionamento filosófico, social e político, em um modelo de produção mais eficiente. GNU+Linux virou Linux, Livre virou Aberto (Free --> Open), Linus virou o "pop star" do movimento enquanto Stallman foi escanteado e Software Livre virou FOSS ou FLOSS, para poder apagar de vez qualquer dúvida do quanto eram tecnicamente superiores e ideologicamente insignificantes.
Eu acordei desse encanto em 2012 quando me dei conta de que estava completamente dependente das ferramentas do Google. Em um artigo comuniquei que estava deixando de usá-las e até escrevi um HowTo de como proceder. Foi nesse mesmo ano que a Canonical decidiu embutir um spyware no Ubuntu, a distribuição que eu usava, e isso me fez ainda mais atento aos detalhes do que eu estava chamando de Software Livre.
Desde então tenho me dedicado a alertar os militantes do Software Livre sobre o encantamento no qual se encontram, implorando que despertem e percebam que apesar de acharem que estão fazendo o bem, estão ajudando a enganar as pessoas, estão distribuindo software não livre e, consequentemente, matando o Movimento Software Livre.
É claro que eu não poderia sair incólume. Apontar os erros dos outros é uma tarefa ingrata. Especialmente porque, estou me dirigindo a pessoas com um intelecto privilegiado, capacidade avançada de pensamento cognitivo e com muitos anos de militância na bagagem. Os argumentos estão sedimentados e as meias-verdades estão sedimentadas como verdades absolutas. E essa reação é tão forte, que os argumentos chegam a beirar o surrealismo, como insistir em dizer que o Linux é Software Livre.
Então, depois de anos recebendo criticas e toda sorte de acusações, decidi fazer uma auto entrevista comigo mesmo - pleonasmos propositais - para esclarecer algumas perguntas que sempre me fazem. Então se preparem, a tarefa de auto trolagem não é nada bonita.
P: Quem você pensa que é para falar em nome do Software Livre? Você não acha que seus 5 minutos de fama já acabaram?
Puxa vida! Eu não sou ninguém. Sempre repito isso, mas as pessoas tendem a ignorar. Eu não faço parte da FSF ou nenhuma outra organização formal. Não represento ninguém. Sou apenas um militante ativo. Então eu não sou ninguém!
Não me acho melhor nem pior do que ninguém. Mas é interessante como os criticos conseguem ser malvados. Eu nunca sofri tantos ataques de caráter pessoal em toda minha vida. O mais triste é que eles vem de pessoas supostamente esclarecidas, inteligentes e oriundas do próprio Movimento Software Livre.
P: Você critica muito e fala muito, você contribuiu com algum projeto de Software Livre?
Como disse antes eu sou um militante do Movimento Software Livre e portanto, é inevitável que eu tenha feito e continue contribuindo. Sou fundador do G/LUG-PB - Grupo de Usuários GNU/Linux da Paraíba, ajudei a realizar alguns eventos, como o ENSOL - Encontro de Software Livre da Paraíba, desenvolvi alguns Softwares Livres como o LESP, lesp-cel e KyaPanel (antes chamado de JeguePanel), contribuí para diversos outros projetos traduzindo e mandando pequenas contribuições e correções, e sou mantenedor do primeiro POD (servidor) Diáspora no Brasil. Sei que não é muito, mas tento fazer a minha parte.
P: Você sabe compilar um software?
Sei sim. Inclusive o kernel linux-libre :-)
P: Você acredita em Deus?
Não. Sou ateu desde criança.
Costumo dizer que sou ateu, materialista, dialético, graças a Deus! :-)
P: Você é comunista?
Sou socialista, que é o embasamento ideológico do comunismo. O Comunismo é uma tentativa pragmática de aplicar o Socialismo. Mas se você quiser saber eu sou Fidelista sim. Tenho família em Cuba e conheço bem os problemas e méritos do sistema Cubano. Prefiro 1000x uma sociedade igualitária e com os melhores índices sociais das Américas às desigualdades mantidas propositadamente pelo capitalismo.
E antes que me mandem ir para Cuba, permita que lhes diga que eu já tentei. E 1998 fui a Cuba a passeio e pedi para ficar. Não me deixaram. Hoje não há mais espaço para uma mudança desse tipo, constitui família e tenho uma carreira profissional. Mas não deixo de lutar pelos meus ideais políticos aqui mesmo no Brasil. Sou Brasileiro e não desisto nunca!
P: Você acha que o Movimento Software Livre tem viés de esquerda?
Acho que sim. Não foi algo pensado ou planejado. O próprio Stallman diz que se trata de um movimento social e político que empodera o usuário através do acesso ao código, para mudar a relação de poder entre os usuários e os fornecedores de tecnologia. Hora, na minha compreensão, todo movimento que empodera o cidadão em detrimento das corporações é um movimento de cunho socialista. Além disso o próprio caráter distributivo, igualitário e comunitário fazem do Software Livre um movimento de esquerda.
P: Então se você é socialista você acha que não se deve ou não se pode ganhar dinheiro com Software Livre?
Nada disso. Pode-se e deve-se gerar riqueza com Software Livre. Apenas o modelo de como se faz isso é que deveria ser repensado. O modelo que eu mais gosto é o de Cooperativa, nos moldes da COLIVRE, mas respeitando as leis vigentes, respeitando às liberdades do software segundo as definições da GPL e adotando uma abordagem mais humana de fazer negócios (isso é possível?) então ta de boa ganhar grana com Software Livre.
Se quiserem mais exemplos de como se faz isso, basta assistir as dezenas de palestras do Jon "maddog" Hall. Inclusive ele está empenhado em um agora mesmo: o Projeto Cauã.
P: Você critica muito o uso das redes sociais, inclusive às chama de Redes Devassas, mas você tem uma conta no Twitter? Você não se sente agindo de ma fé, algo como" faça o que eu digo, mas não o que faço"?
Sim, me sinto assim, mas não é algo verdadeiro. Eu não defendo, nem cobro de ninguém 100% de uso de Softwares Livres. Acho que não é possível neste momento. O meu objetivo é tirar as pessoas de sua zona de conforto e fazer com que percebam que passaram, perigosamente, do limite. Usar uma rede ou outra, um software não livre ou outro não é um problema tão grave assim. Mas quando você perceber que quase tudo o que faz no seu dia a dia, depende de uma rede devassa, de um serviço on-line privativo ou de um software não livre, então é hora de repensar. O mais grave é que tem gente que está nessa situação, defende que deve ser assim mesmo e ainda se define como ativista do Software Livre. Faz sentido?
Se eu quantificar o percentual de softwares não livres + redes devassas que uso, em relação aos Softwares Livres e redes sociais livres, seria algo me torno de 10%. Então usar o Twitter, com clientes livres (Twidere e Hotot) para não me isolar do mundo, não me parece uma falta de coerência tão grave assim. Não sou perfeito e não estou pedindo que ninguém seja.
Mas usar Google, Gmail, Hangout, Skype, Steam, iPhone e ainda falar em liberdade tecnológica e palestrar sobre Software Livre é meio ridículo.
P: Você sempre indica que sejam usadas as distribuições Linux recomendadas pela FSF, mas você mesmo usa openSuse. Porque?
Eu sou um profissional de TI. Sou consultor de Tecnologias Livres e preciso me manter atualizado com as últimas novidades disponíveis em Software Livre. Em 2012, depois da trairagem da Canonical com o seu spyware eu deixei de usar o Ubuntu, que tinha sido meu sistema operacional por 6 anos. Fui apresentado ao openSuse pela amiga e também militante do Software Livre, Izabel Valverde e gostei muito, em especial da versão Tumblebee considerada instável e que libera sempre as últimas versões de tudo. Mas é claro que tomei o cuidado de substituir o kernel que vem nele pelo linux-libre.
O meu problema pessoal com as distribuições recomendadas pela FSF é o tempo de atualização. Esse é um problema para mim, mas não para a maioria dos usuários comuns. Se a ideia é ter um sistema operacional estável, seguro e realmente livre, opte por uma das sugeridas pela FSF.
Apenas para esclarecer, já faz alguns meses que migrei para o Debian Sid :-)
P: E Android?
Uso sim. Não há outra opção viável no mercado. Até ensaiei um Firefox OS, mas ele não é estável o suficiente e ai terminou que ele foi descontinuado. Android não é 100% livre, até porque isso não é possível nos aparelhos comercializados hoje em dia. O Replicant, a tentativa de um Android 100% livre esbarra na falta de drivers livres para fazer o wifi funcionar, por exemplo.
O que faço é não usar os aplicativos do Google. Assim optei por usar uma ROM chamara OMNI e sempre sugiro que usem a CyanogenMOD ou outra, que seja o mais limpa possível. Sem conta do Google e usando repositórios alternativos como Aptoide.com e F-droid.org. Será que ficou claro que eu prezo pela possibilidade?
P: Você usa Ubuntu de alguma forma? Alguns testes nos seus servidores indicam que sim e claro que isso não pega bem para quem dissemina o #semUbuntu
Não uso Ubuntu desde 2012 em nenhum lugar. Eu contratei uma hospedagem compartilhada na DreamHost.com que tinha seus servidores rodando RedHat. Como se sabe, nesses casos você não tem nenhuma autonomia sobre a distribuição que é utilizada. Assim, um belo dia, eles migraram os servidores de RedHat para Ubuntu e foi assim que eu terminei usando Ubuntu sem saber por algum tempo. Quando fui alertado do problema tomei medidas imediatas.
Eu mantenho dois servidores próprios: um para a minha página pessoal e outro de um serviço de hospedagem de e-mail KyaHosting e ambos rodam sobre Trisquel.
Trisquel é uma distribuição mantida por um coletivo espanhol que se dedica a remover TUDO o que não é livre das versões LTS do Ubuntu. É tão bem feito e tão confiável que ganhou homologação da FSF. Mas tem um porém: quando eles percebem que não é necessário tocar em algum pacote, eles não mudam nem mesmo as assinaturas. Então programas como Nginx e PHP informam que se trata de um Ubuntu, quando na verdade é Trisquel. É um caso típico de falso positivo.
P: Vai bem dizer que você num usa um "softwarezinho" privativo aqui e ali?
Uso sim. As vezes é inevitável ou desejável. Um excelente exemplo de inevitabilidade são os aplicativos de banco. Simplesmente não há alternativa. Então se submeter ao uso de algum software não livre é aceitável até mesmo para um ativista, mas não pode ser somente isso. E o problema, em geral, é exatamente saber qual é o limite?
Na minha opinião o limite é aquilo que pode ser substituído, ou seja, se há uma opção livre ela deve ser usada, mesmo com menos recursos. No fim a pressão pelo uso de software não livre vem do mercado, ou seja da demanda. Como a maioria das pessoas não se importa com a liberdade do software, então a oferta de determinadas soluções é mínima ou inexistente. É o caso dos drivers de wifi para smartphones.
Acredito que se a maioria das pessoas desse a devida importância ao Software Livre e se dedicasse a exigir de seus fornecedores que liberassem o código de seus programas, inclusive os drivers do hardware, o cenário do mercado seria completamente diferente. É como ser um tanto ecologista ou "natureba". O preço dos alimentos orgânicos é absurdo porque a demanda é baixa. O interessante é que ninguém, deliberadamente, quer consumir agrotóxicos. É como se todo mundo esperasse o outro fazer a diferença. É o famoso "deixa que eu deixo" e a bola termina no chão com ponto para o adversário. Neste caso é um processo de auto flagelo, estamos nos condenando a consumir mais veneno, mais tecnologia privativa, etc.
É um paradoxo: quanto mais as pessoas exercem sua liberdade de escolher usar tecnologia sem se importar se ela é livre ou não, menos livres elas se tornam. Isso gera um padrão de mercado, que termina forçando os que se importam com a liberdade do software a enfrentar sérios dilemas cotidianos: usar ou não usar, distribuir ou não distribuir, recomendar ou não recomendar alguns softwares não livres.
P: Você sempre repete que o Linux não é Software Livre. Imagino que esteja se referindo aos blobs. Considerando que estes não fazem parte do kernel, você não está sendo desonesto, fazendo FUD?
Isso é algo extremamente sem sentido: quanto mais eu digo a verdade, mais me acusam de estar mentindo. Parece um universo paralelo, espelhado. O linux é o kernel mais popular do sistema operacional GNU. Há outros, mas infelizmente não tão usáveis. Será que você já parou para pensar porque?
Precisamos definir o que é um kernel usável. Se por uma parte é o fato dele ser bem feito e permitir o gerenciamento adequado do hardware, sem dúvida. Mas há outro quesito fundamental que precisa ser considerado: suporte ao hardware existente. O que poucas pessoas parecem entender é que desde 1994 o Linus optou pelo pragmatismo em detrimento da filosofia libertária do Software Livre. Desde esse ano ele se utiliza de uma carência legal da GPL 2 para embutir software não livre no kernel. Sim, isso mesmo, desde 1994. Então o arquivo fonte que você baixa em kernel.org está tão recheado de software não livre que a liberdade 0 - aquela que diz que você deve poder fazer qualquer coisa com o software - não é respeitada. Portanto não é magia, nem mesmo competência o que tem feito o Linux ser cada vez mais compatível com uma vasta gama de hardware do mercado, mas sim a infecção progressiva do kernel com mais e mais drivers não livres.
O mais interessante é que desde então a quantidade de softwares não livres só aumenta. Chegamos a um ponto em que um fork do Linux foi criado: linux-libre. Nele todos os softwares não livres são removidos e o resultado é um kernel realmente livre.
Então, nem o Linux é Software Livre e também não é Open Source. Vejam que ironia, porque até mesmo os defensores de uma certa dose de pragmatismo ideológico estão levando uma rasteira daquelas. E se o Linux não é FLOSS então Tux não nos representa.
P: Você faz parte da iniciativa #semUbuntu e sugeriu que o FLISOL, por exemplo, não instalasse mais essa distribuição. Você não acha melhor migrar um usuário de Windows para Ubuntu, do que não migrar?
O #semUbuntu é uma provocação simplista para mentes simplistas. Se o kernel distribuído não é livre, parte dos softwares distribuídos não é livre, então o Ubuntu não é livre. Se o sistema operacional não é livre por que o Festival Latinoamericano de Instalação de SOFTWARE LIVRE instala ele? Talvez porque a maioria dos voluntários que realizam o FLISOL são iniciantes entusiasmados que foram apresentados ao Linux e ao Ubuntu como sendo Software Livre, quando não o são. Esses foram enganados e, infelizmente, estão ajudando a espalhar o engano.
Honestamente acho que migrar um usuário de Windows para Ubuntu é melhor do que não migrá-lo, mas desde que ele saiba que o que ele está usando não é Software Livre. O mesmo pode ser dito de um smartphone: prefiro um que use Android do que iOS ou WinPhone, mas isso não implica dizer que o Android é Software Livre. A provocação aqui é que se deixe claro para o instalador e para o usuário que o sistema operacional que está sendo instalado não é livre. Assim ambos não se deixam enganar e não propagam mais a enganação.
Se todos os realizadores do FLISOL assumissem um compromisso com os valores no evento e do Software Livre eles fariam isso. E então ficaria muito estranho ter que explicar para as pessoas que aparecessem que vão instalar um Linux que não é livre, pois o que geralmente leva as pessoas ao FLISOL é exatamente experimentar a liberdade.
Então se for para migrar um usuário de Windows para Ubuntu, dizendo para ele que ele está usando Software Livre, é melhor não migrá-lo. Uma vez revelado que o Ubuntu não é livre, não faz mais sentido instalá-lo e ai as opções seriam as distribuições indicadas pela FSF.
P: Mas você não acha ridículo deixar um usuário novato sem sua Wifi funcionando somente para não instalar alguns Kb de software privativo?
O que é verdadeiramente ridículo é alguém defender o uso desses poucos Kb de softwares não livres sem contar isso para os usuários. Acho que existem opções claras de resolver esse impasse: explique bem o problema para a pessoa, assim ela terá o direito de ficar indignada com o fabricante; troque a placa wifi por uma que funcione com drivers livres. É fácil e barato; pressione o Linus a não embutir softwares não livres no kernel. O que não pode ser feito é enganar os usuários iniciantes.
P: Você não acha que é muito rude, grosseiro e duro nos seus artigos?
Honestamente não acho. Ser explícito e contundente com pessoas que sabem exatamente o que você está dizendo não é grosseria, é respeito. É como dizer que um Procurador está sendo pernóstico por usar uma redação demasiadamente jurídica em suas peças para apreciação da plenária. Meus artigos e textos não estão direcionados aos iniciantes e leigos. Tenho me dirigido aos Movimentos de Software Livre existentes, aos ativistas, organizadores de eventos, aos já iniciados e aos dinossauros salafrários que se camuflam por trás da pecha de liberdade, linux e Software Livre para enganar as pessoas em benefício próprio. Inclusive esses são os que mais reagem.
P: Todos dizem que você é muito radical. Você se considera radical, "xiita" ou terrorista?
Engraçado isso. Dependendo de quem me classifica assim, pode estar exageradamente certo ou absolutamente equivocado. Permita-me explicar.
Se quem acha que eu sou extremista for uma pessoa que não entende bem o que é Software Livre ou um defensor do software não livre, então, apesar do exagero, desde o ponto de vista ignorante dele, eu sou sim um extremista, um radical. Afinal de contas quero que todos os softwares do mundo sejam livres.
Mas se quem me acusa é um OSIsta ou um pseudo ativista do Software Livre, então o ataque é uma tentativa de me desqualificar. Como eu defendo o conceito original do Software Livre estabelecido pelo Stallman, e o que essas pessoas estão tentando fazer é mudar esse conceito, me considero um conservador empedernido. Eu quero que o conceito seja mantido e respeitado.
P: Você não acha que está prestando um desserviço à Comunidade? Provocando brigas, rachas e mal estar?
Na verdade eu espero estar causando rachas e mal estar. O objetivo é exatamente desestabilizar os oportunistas que continuam querendo colocar Software Livre e Open Source no mesmo saco, tudo junto e misturado porque assim se encaixa melhor com suas ideologias de mercado, porque assim atendem melhor aos seus interesses comerciais, por que assim podem manter a imagem de consultores, especialistas, profissionais de Software Livre, porque assim podem manter seu prestígio construído sobre os alicerces da filosofia GNU sem ter que respeitá-la.
Quando gero o antagonismo e provoco o contraditório, as mascaras caem e o verdadeiro posicionamento de cada um se revela. Tem sido assim com blogueiros, líderes de comunidades, organizadores de eventos, jornalistas e toda sorte de pseudo ativistas que se escondiam na sombra da área cinza que se gera quando se usa o acrônimo FLOSS(FOSS).
O conflito leva à discussão, que abre espaço para a reflexão e permite um posicionamento mais honesto frente aos outros e para si mesmo. Alguns veteranos do Movimento Software Livre, depois de lerem alguns dos meus artigos tem me confidenciado - e em alguns casos assumido publicamente - que não são mais defensores ou ativistas do Software Livre. Afinal de contas ninguém é obrigado a concordar, aceitar e seguir os preceitos filosóficos do GNU. O que não é produtivo é tentar deturpar o seu significado e suas diretrizes para que se encaixem na sua própria visão. Isso é desonestidade.
Estas são as minhas opiniões. Todos somos, ou deveríamos ser, livres para fazer suas próprias escolhas. Não condeno quem opta por seguir um caminho ideológico ou prático. Mas posso discordar e exercer meu direito humano de expressão. Meu embate é com os iludidos, desatenciosos ou falsos e mal intencionados que defendem a convivência, complacência e uso de softwares não livres e ainda dizem que isso é Software Livre. Faça sua escolha, siga o seu caminho, mas não se engane e muito menos iluda outros.
Esse questionário foi pensado por mim, inspirado em muitas das agressões e provocações que tenho recebido. Se você quiser me perguntar qualquer outra coisa, fique à vontade e pergunta. Só peço que o faça com educação e sem grosseria. Quem sabe em breve sai um capítulo 2 do Auto Trolagem.
Saudações Livres!
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