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CRM: um mantra para crises organizacionais.

Por Jefferson Wanderley dos Santos

Data de Publicação: 12 de Setembro de 2016

Demorará até termos nossa economia nacional de volta aos trilhos. Como nossa capacidade de poupança interna é muito baixa, dependemos de investimentos estrangeiros maciços. E eles só virão se, além de oferecermos condições socioeconômicas estáveis, investirmos em nossa infraestrutura.

Acontece que, hoje, as necessidades de investimentos giram nos patamares de R$ 1,2 trilhões para tornar nossa infraestrutura compatível com nossa demanda de crescimento. Isto posto, acredito que demorará o dia em que acordaremos sem sobressaltos de juros altos ou sem o fantasma da corrosiva inflação. Até esse amanhecer ocorrer, as empresas não contempladas com as seletivas benesses do poder público, terão que perseguir a alta produtividade em níveis elevados de eficiência, pois errar custará, a cada dia, mais caro. Como bom nordestino: As organizações continuarão a "dar nó em pingo d´água".

Como passei mais de trinta anos gerenciando projetos em organizações militares, essa realidade não me é estranha, pois nossos planos de ação recebiam repasses de recursos, em conta-gotas, ao longo do ano fiscal. Eram chamados de "duodécimos" (a cada mês eram descentralizados um doze avos do orçamento total para um ano).

Para dar consecução às atividades e projetos valia-me de metodologias gerenciais comuns à minha seara de aviador. A principal metodologia responde pela sigla de CRM (Corporate Resource Management). De origem inglesa e mais antiga, tal acrônimo difere, em natureza e aplicação, do CRM para Customer Relationship Management.

Anterior ao Corporate inicia-se o estimulo a percepção de cenário (situation awareness) a partir da cabine (cockpit) ou seja, a fase inicial era Cockpit Resource Management onde três integrantes de uma mesma cabine (comandante, copiloto e engenheiro de vôo) sabiam exatamente o que fazer e o que cada outro tinha que fazer. O cenário de fundo eram os voos normais e as situações de emergência.

A crise, portanto, era o cenário de fundo para o qual essa metodologia nos preparava. Emergências em voo são crises sofisticadíssimas e, via de regra, só delas saímos com ação colaborativa de mais de um ator ou função. Desta forma a temperança e a confiança nos desempenhos do seu par preparavam os gestores do voo, os pilotos, para "tirar o avião da emergência".

Evoluindo para um patamar acima do "cockpit", o CRM abrange o salão de passageiros e, eventualmente, o "pessoal de apoio de solo" (mecânicos, reabastecedores, pessoal de limpeza, etc) e passa a ser concebido como Crew (equipagens) Resource Management. A gestão dos recursos e ferramentas usados por uma tripulação (equipagem) precisam estar em sintonia com o objetivo prevalente, o voo eficiente e seguro.

Por este mesmo viés, a metodologia prepara e estimula um endoutrinamento para todos saberem exatamente, o que tem a ser feito e, da mesma forma, o que cada outro tem a fazer.

O "estado da arte" passa, então, a ser o nível de Corporate ou corporação ou empresa - terceiro e último estágio-. Neste nirvânico patamar gerencial (quem sabe, um dia, "shangrilático" - pois em 35 anos de atividade aérea não vi ocorrer salvo raríssimas exceções e em projetos específicos).

O CRM tem como pressuposto o desenvolvimento do situation awareness que muito se encaixa na percepção antecipada de óbices aos desempenhos organizacionais. Quanto todos os líderes e componentes de cada setor tem a exata noção do que deve ser feito e, também e sobretudo, o que os demais setores tem a fazer para se contribuir para os objetivos maiores da organização, o risco do erro se reduz substancialmente.

O erro DEVE ser antecipado ANTES de ser mitigado: "é o estado da arte": da gestão e, no caso, o que o CRM se propõe. Como os cenários de restrição, sobretudo a financiamentos, demorará a ser favorável, convém desenvolver nos âmbitos organizacionais a cultura da visão integrada de atividades e processos.

Acesso reduzido a recursos prevalecerá sobre condições para se obter sucesso, eficiência e altos níveis de produtividade. O CRM, por certo será, antes de ser uma boa alternativa, um verdadeiro mantra para a manutenção da competitividade organizacional.

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Simples e perfeito. Muito obrigado por compartilhar o conhecimento!

Sobre o autor

Jefferson Wanderley dos Santos atualmente é Professor, Consultor, Palestrante e Facilitador. Foi piloto militar e civil em mais de 15 aeronaves (aviões e helicópteros) de diferentes tipos e piloto offshore (SK-76C) na Líder Aviação. Possui, no total, mais de 5.000 horas de vôo. Possui ampla experiência em Planejamento Institucional com base em Avaliação de Cenários (organizacional e institucional: Brasil e América do Sul) atuando em treinamentos como orientador de diplomatas civis e militares no módulo Peace Operations Executive Seminar do Pearson Peacekeeping Centre no Interamerican Defense College em Washington - DC - USA e no módulo Large Scale Emergencies and Desasters Seminar também no Interamerican Defense College em Washington - DC - USA. Possui ampla experiência em Consultoria para organizações do Comando da Aeronáutica na área de Gestão Estratégica de Recursos Humanos. Proferiu palestras sobre Gestão de Recursos Humanos na Aeronáutica para militares dos países das três Américas e Caribe no 27º Comitê de Gestão de Recursos Humanos e Ensino em Winnipeg, Manitoba, Canadá.

Proferiu palestras sobre o Brasil e seus cenários social, político e econômicos para diplomatas civis e militares do Interamerican Defense College e National Defense University, ambos na cidade de Washington - DC - USA no ano de 2007; foi coordenador acadêmico no Interamerican Defense College, Washington- USA, 2007 a 2008; foi professor-chefe do Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais na Universidade da Força Aérea RJ no ano de 2009; possui ampla experiência em Assessoramento e Avaliação de Processo Decisório para funções de assessoria, chefia e direção de organizações do Comando da Aeronáutica.

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