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Apagão da mão-de-obra em TI: A culpa é de quem?

Por José Antônio Milagre

Data de Publicação: 29 de Agosto de 2011

Onde está o meu emprego, com tanta demanda de mão-de-obra especializada em tecnologia da informação? Realmente, esta questão faz parte do cotidiano de muitos profissionais disponí­veis no mercado. O Brasil vive um "apagão" de mão de obra especializada em TI para dar conta da demanda interna, e a situação tende a se agravar com eventos Olimpí­adas e Copa do Mundo.

Segundo a FGV, até 2014 teremos um déficit de 800 mil vagas no setor. Estima-se que hoje, 92 mil vagas de tecnologia da informação estejam disponí­veis. No entanto, basta sair ao mercado para ver profissionais formados desempregados ou trabalhando em áreas completamente distintas da de formação. Pior, apenas 15% dos alunos que iniciam cursos de tecnologia da informação terminam as graduações.

Todo este cenário vai na contra-mão do crescimento brasileiro em TI. Segundo o IDC, o Brasil deverá crescer 13% na área de Tecnologia da Informação em 2011 superando taxas como Estados Unidos e Canadá. Nem mesmo os incentivos fiscais sobre a folha de pagamento das empresas de tecnologia da informação, recentemente anunciados pelo Governo, atenuaram ou minimizaram este cenário.

A culpa é de quem?

Evidentemente, estamos vivenciando um gargalo educacional. Faculdades e mais faculdades de TI, despreparadas e com professores sem qualquer especialização, despejando profissionais e formando-os em conteúdos que há muitos anos não são mais necessários para as empresas. Resultado, baixí­ssima qualificação. E o que isto gera? Altos salários para o mais qualificados, que estão voltando do exterior para assumirem cargos de TI no Brasil, vaga que poderia ser a sua.

Apreendemos hoje um a notória obsolescência de parte do conteúdo programático de muitas faculdades de tecnologia do Brasil. Sem programas de incentivo, qualificação, inovação tecnológica ou parceria com empresas de TI, profissionais são despejados no mercado e não despertam o interesse das empresas. As certificações passam a ter mais relevância que a formação universitária e demandam investimentos que muitos jovens não tem como empregar, algo que também poderia ser parcialmente subsidiado pelo Governo.

Grandes empresas de software e integração também são muito tí­midas em abrirem seus programas educacionais para universidades, esbarrando sempre em análises de risco pouco lúcidas, fazendo com que "pouquí­ssimos" tenham acesso a tais programas, ferramentas e conhecimentos.

Não bastasse, a péssima estrutura de empresas de recrutamento e seleção para atuarem na área de TI também emperra as contratações. Sem conhecer a fundo o core business de seus clientes "inventam" exigências mais que inatingí­veis além de absolutamente desnecessárias para os cargos disponí­veis. A TI só precisa suportar o negócio, não fazer "milagres".

Não podemos deixar de consignar parcela de culpa aos empreendedores, que em que pese atuarem com Internet, tecnologia e mundo globalizado, ainda mantém e preferem meios ortodoxos de trabalho, sem ousarem novas possibilidades. Buscam profissionais que residam apenas nas capitais (De preferência próximos í  empresa), esquecendo-se que o teletrabalho é uma realidade, e que grandes multinacionais já mantém equipes de service desk em TI espalhadas pelo Globo. Buscam profissionais na mesma fonte, e esta fonte está seca!

Vivemos a interiorização do desenvolvimento tecnológico. A China já despertou para este fato (http://veja.abril.com.br/noticia/economia/o-futuro-da-china-esta-no-interior). Regiões ricas como o interior de São Paulo possuem infra-estrutura, ótimas universidades, excelentes profissionais, qualidade de vida, incentivos fiscais, custos e mão-de-obra em TI mais barata que na capital. O empreendedor precisa pensar em "crescer para dentro"! Muitas são as empresas que já criam centros de tecnologia no Interior e atendem todo o Brasil e exterior a partir destas localidades. As universidades interioranas também são mais suscetí­veis í s parcerias que formem profissionais "com a mentalidade" das empresas de TI que demandam serviços.

Resultado, desenvolvimento regional, sustentabilidade, redução das desigualdades sociais, distribuição de riquezas, menores custos de implantação e operação e mais pessoas na folha de pagamento. A lei é simples. Se a "procura" está alta nas capitais, porque não buscar vagas em regiões onde a "oferta" é alta, como no interior? A Internet rompe qualquer barreira e faz com que um profissionais há 300 quilômetros de distância, tenha o mesmo rendimento de um alocado na sede da empresa.

Mas você pode estar pensando: Contratar a mão-de-obra do interior nem sempre significa resolver definitivamente o problema da falta de qualificação!

Realmente, o problema da falta de qualificação é nacional, e para isso só existe um remédio: Qualificar-se! O que o coordenador do seu curso tem feito para isso? O conteúdo do seu curso está adequado í  realidade lá de fora? Quais as parcerias para integração universidade-mercado existentes em sua faculdade? Você já leu o programa de todo o seu curso? Você sabe que ele existe? Você pode, com vontade, construir o seu curso de modo que mais espelhe as necessidades do mercado e isto é fundamental, a menos que você tenha dinheiro para trocar de faculdade ou tirar certificações carí­ssimas!

Mudar este cenário de carência de mão-de-obra é uma tarefa possí­vel, mas dependerá da ação coordenada de universidades, empresas de recrutamento, empreendedores, universitários e profissionais no mercado. Do contrário, continuaremos importando mão- de-obra e colocando dinheiro em estrangeiros. O Brasil só tem a perder!

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Sobre o autor

José Antonio Milagre possui MBA em Gestão de Tecnologia da Informação pela Universidade Anhanguera. É Analista de Segurança e Programador PHP e C, Perito Computacional em São Paulo e Ribeirão Preto, Advogado Especializado em Direito da Tecnologia da Informação pelo IPEC-SP, graduado pela ITE-Bauru, Pós-Graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Faculdade Fênix-SP, com defesa de tese e área de concentração Crimes Eletrônicos, Valor Probatório e o Papel da Computer Forensics, Extensão em Processo Eletrônico pela Universidade Católica de Petrópolis-RJ, Treinamento Oficial Microsoft MCP, Certificação Mobile-Forensics UCLAN-USA/2005, Professor Universitário nos cursos de TI e Direito da Anhanguera Educacional e de Direito e Perí­cia Eletrônica na Legal Tech em Ribeirão Preto-SP , Professor da Pós-Graduação em Direito Eletrônico pela UNIGRAN, Dourados/MS (Perí­cia Computacional), Professor da Pós-Graduação em Segurança da Informação do Senac-Sorocaba, Professor da Pós-Graduação em Computação Forense da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Vice-Presidente da Associação Brasileira de Forense Computacional e Presidente da Comissão de Propriedade Intelectual e Segurança da Informação da OAB/SP 21 a . Subsecção, membro do Comitê de Comércio Eletrônico da FECOMERCIO-SP, membro do GU LegislaNet e TI Verde da SUCESU-SP e palestrante convidado SUCESU-ES. Professor Convidado LegalTech, UENP-Jacarezinho, UNESP, FACOL, ITE, FGP, nas áreas de Segurança da Informação, Direito Digital e Repressão a crimes eletrônicos. Co-Autor do Livro "Internet: O Encontro de dois mundos, pela Editora Brasport, ISBN 9788574523705, 2008.

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