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As revoluções cognitivas e as mudanças nas topologias das redes

Por Carlos Nepomuceno

Data de Publicação: 26 de Agosto de 2011

Insanidade é querer o mesmo mundo de 200 anos atrás com uma população 7 vezes maior - Nepô -da safra de 2011

Não é eficaz entender a sociedade como um processo evolutivo contínuo.

A história, infelizmente, não deixa que esse peça se encaixe no quebra-cabeças!

Gostaríamos de ver o mundo de um jeito, com as nossas melhores ilusões, mas a vida, malvada, não deixa.

Nós somos animais sociais.

Conforme a "matilha humana" esteja resolvendo seus problemas somos mais ou menos agressivos.

Coloque os lobos humanos com fome, como foi antes da II Guerra na Alemanha e eles terão vontade de morder gente, basta que apareça um lobo-alfa disposto a rosnar e apontar o caminho.

Não iremos aprender com o passado, pois todo dia acordamos com fome, sede, sono, frio e calor e se as coisas não forem bem, somos capazes de tudo.

E não tem livro de história que fique na frente.

Ser humano é uma vida de reequilíbrio constante.

Somos taxas.

Não vamos um dia:

"ter jeito", "agora sim", "então finalmente", etc...

Tudo é um equilíbrio passageiro, que muda, conforme o dia nasce e a vida que segue.

A cada geração começa quase tudo de novo, dentro de uma nova configuração econômica, social, política, tecnológica, informacional, comunicacional, relacional.

Vamos sempre estar nos reequilibrando, conforme formos caminhando com mais ou menos fome pelas planíces.

Ponto!

Podemos incorporar algumas boas práticas, mas sempre com um espaço para a loucura coletiva sair de qualquer lugar, desde que alguns parâmetros de baixa-sobrevivência sejam atingidos.

A sabedoria seria tentar evitar chegar a tais pontos, mas....a tendência de quem consegue melhorar de vida é colocar grades, muros, fronteiras em torno de si e esquecer os demais.

E a vida com seus lobos arranjam um jeito de pegar um avião e jogar em cima de um prédio, ou explodir uma bomba no metrô, ou matar gente no parque.

A terra é uma bola que, por enquanto, não se tem para onde fugir.

Nosso espírito lobo aparece em filmes nos quais cai um meteoro e a nova população sobrevivente começa a criar currais de gente para comer no porão.

Se não gosta de ficção, abra o jornal todo dia para ver do que estamos falando.

Acredito em zumbis, em lobisomens, desde que determinadas luas cheias apareçam.

Concordas?

Assim, não vamos entender NUNCA o movimento radical que estamos fazendo no mundo com a chegada de rede digital se não pensarmos como esses lobos das estepes.

Uivando diferentes tipos de músicas (G) lobais no alto da colina.

Há um fator meio invisível para compreender os movimentos agressivos inconscientes da matilha que é o aumento do número de lobos.

(Vá a São Paulo e sinta a maior agressividade no ar.)

Quanto mais lobos, mais teremos dificuldade de combater a taxa de baixa-sobrevivência.

Como pássaros - que migram em direção a um mundo mais repleto de lobos - nos organizamos em redes.

Assim:

mais lobos = redes de lobos diferentes.

As redes são nossas formações de sobrevivência.

(Sugiro ler o post de ontem.)

Nelas, como as formigas, avisamos sobre os perigos, aonde tem comida, com quem nos reproduzimos e, através delas produzimos tudo que nos dá a sobrevivência.

É a nossa ecologia social baseada em redes, desde a época que não se tinha época.

Quando estamos bem vamos tendendo ao conforto, à centralização das redes, a uma ilusão que tudo aquilo vai se eternizar, pois vamos relaxando e deixando que pessoas tomem conta da nossa vida, pois está dando certo.

É o efeito medo da morte e vontade de nos eternizarmos em uma rotina fechada.

E isso vale também para o contrário.

Basta a vida piorar e já queremos mudar, discutir, descentralizar.

As formações de redes variam conforme nossas necessidades conjunturais a curto prazo e estruturais ao longo, conforme aumenta a matilha.

Quando entramos em crise, tendemos a abrir espaço para o novo, a prospectar novidades e descentralizar as redes e vice-versa. Isso vale para nossa vida, para a vida das empresas, da sociedade.

Não é fato?

Assim, as redes também evoluem, ficam mais complexas do seu ponto mais centralizado ao mais descentralizado.

Tais movimentos não são da ordem do controle, da consciência, são coisas que ocorrem de forma coletiva, como gansos voando, que vão trocando a formação no ar.

Como uma manada que dispara em direção a qualquer lugar por medo de um felino.

Como nossa matilha atual eletrônica que não precisou ser convencida a usar celulares, redes sociais e a fazer coisas impensáveis anteriormente dentro delas dentro de algo que é o imponderável, aquilo que cada membro da matilha não tem controle.

E o fator fundamental, a meu ver, é o aumento da população, que vai nos obrigando a sermos mais mutantes, pois quanto mais lobos, mais a formação da matilha tem que se sofisticar.

Ou seja, usamos diferentes redes na vida, mas de tempos em tempos migramos todos para redes mais sofisticadas, em função do aumento da matilha, pois a anterior fica obsoleta para nos proteger das intempéries.

É mais do que uma passagem, mas uma mutação coletiva.

De lá para cá, nossos cérebros, corpos, maneira de pensar, agir, relacionar, comunicar, se informar, tudo migra para essa nova formação e passamos a variar, de novo, para as mais fechadas e mais abertas, conforme a ocasião, mas em outro patamar.

Como cobras que trocam de peles, todos juntos, porém em momentos diferentes, em regiões distintas, sem uma explicação plausível, a não ser um macro-ajustes do tamanho da matilha.

Eis o fato.

Uma foto desse movimento pode ser vista aqui na topologia das redes, feita em 1964, por Paul Baran que veio de novo à tona, trazida pelo artigo que me mandou o Augusto de Franco.

Os três modelos vão variar, conforme a situação da matilha.

Não acredito que estamos evoluindo da mais centralizada para a mais distribuída, pois temos a tendência mais adiante e ir centralizando.

Não haverá, aliás, nenhuma rede 100% centralizada ou distribuída, ou descentralizada, são utopias de ambos os lados quem quer total controle e quem não quer.

São tentativas e vão acontecer, conforme necessidades da matilha.

Não é uma formação estática, varia em vários lugares, conforme o perfil das pessoas, momento econômico, social e político de um grupo, etc, país, região.

Porém, há digamos uma macro-forma de rede que estabelece uma modelo geral de operarmos, que marcam eras na sociedade, pois arrasta todos a sociedade nessa direção, começando de um ponto e migrando para outros e voltando ao ponto original em um macro movimento.

Estamos justamente agora saindo do modelo mais centralizado da mídia de massa, por exemplo.

O que podemos chamar de** macro-eras das topologias de rede na História**, que são os modelos gerais que acabam moldando uma etapa de uma civilização, como a nossa marcada mais distribuída por criada em 1450 com o surgimento do papel impresso, que nos deu a possibilidade de reinventar o mundo: criando a democracia republicana e o capitalismo x a monarquia e o feudalismo.

Somos a matilha do papel impresso que aprendeu a ver rádio e tevê logo depois.

Somos filhos dessa rede muito mais complexa criada em 1450, mas esse processo chegou ao princípio do seu fim, podemos ver o ciclo mais abaixo, na qual tento criar um modelo dos últimos 500 anos, com o surgimento do rede do livro impresso que veio substituir a rede oral e do papel manuscrito, veja como observamos o movimento, de lá para cá:

Quando

Macro-topologia

Observações

Antes da prensa ? pré-1450

Um modelo fechado da Igreja e da Monarquia, através do controle de tudo que circulava, ideias e produtos, gerando um processo de decadência, em função do aumento da população da época, que demandava inovações que a rede não permitia, pois o controle, a intermediação é lenta, reduz a velocidade das trocas e causa problemas de abastecimento.

Surgimento da prensa – 1450 – Passagem de um modelo muito fechado para um radicalmente aberto, que passam a conviver no mesmo período histórico, no qual os papéis impressos e depois as mercadorias passaram a circular sem condições de controle, que acontece de novo agora, no qual o poder vigente não tem como evitar a circulação de ideias. Momento que abre um surto filosófico, renascença e a constituição das bases conceituais para as revoluções sociais que vêem a seguir, a procura da adaptação da matilha ao novo número de integrantes, que a rede passada não permitia. As duas redes convivem juntas por um tempo e se equilibram na rede abaixo.


Consolidação da prensa, através de editoras, jornais e o início da mídia de massa, chegando ao século XX.

Na evolução, os hubs vão se consolidando, o poder aprende a dominar o modelo e começa o processo de consolidação. É uma nova classe social, que apresenta uma nova proposta da sociedade e vai dominando o modelo e aprendendo a controlá-lo. Gera o início de decadência, pois não atende as novas demandas de uma população que cresce ainda mais, pois consegue-se reduzir a taxa de mortalidade, a inventar formas de manter mais gente viva, porém com o modelo de rede passada.

Consolidação da Indústria da mídia de massa, já no século XX.

Os canais vão se fechando praticamente para o novo, asfixiando a sociedade que precisa resolver problemas de formas diferentes. É um momento de procura inconsciente de saídas, ainda mais quando as condições criadas permite um salto populacional de 1 bi em 1800 para 7 bi em 2012.

Rompimento em novos modelos completamente inusitados, vide Redes Sociais, sem controle se compararmos ao modelo anterior.Que vêm com uma tentativa de uma inovação radical para fazer os ajustes do passado. Estamos nessa fase, com redes completamente abertas tentando um vão diálogo com as fechadas do século passado.

E temos hoje claramente a briga entre os dois modelos, como foi com a chegada da prensa, completamente diferentes apresentados do lado. O modelo aranha e o modelo estrela do mar. Que convivem ao mesmo tempo no mesmo momento histórico, com a tendência de ir se consolidando e fechando os hubs para o modelo descentralizado, porém não no mesmo patamar, pois há um processo de mutação da matilha nesse processo. Vamos viver em redes muito mais complexas e as redes espelharão isso. Elas tendem a ser mais controladas ao longo do tempo, porém vão ter a característica e a dinâmica de um novo tipo de troca compatível com os 7 bilhões de habitantes. Entramos assim numa nova era da civilização com uma rede mais complexa e compatível com a nova população, que tende a um equilíbrio mais adiante.

É preciso fazer alguns poréns sobre a tabela acima:

  1. quando se olha uma rede distribuída, imagina-se que TODOS os cidadãos devem estar nelas e em não estando, isso não corresponde à realidade. A história mostra que as mudanças de redes quando atingem os países mais desenvolvidos em termos econômicos, estes servem de locomotiva e puxam os demais. O que caracteriza a passagem é a adesão nestes locais que influenciam todo o resto. Repito: são modelos que nunca vão ser totalmente puros;

  2. muitos podem argumentar que uma rede distribuída nunca será alcançada e que hoje a Internet não é distribuída. Prefiro trabalhar com taxas de descentralização/centralização. O objetivo é demonstrar que temos hoje uma taxa de desintermediação de processos muito grande em relação à rede passada, e é apenas uma forma gráfica de apresentar a grande passagem.

Eis, então, o nosso dilema do momento atual.

Estamos no contexto histórico de choque entre estas duas topologias completamente distintas.

Uma completamente distribuída (querendo inovação) e outra completamente centralizada (impedindo que esta ocorra).

A resposta que vale 800 bilhões de dólares, como ir juntando de forma menos traumática possível as duas para criarmos um novo mundo que suporte a nova matilha de forma melhor possível?

Auuuuuuuuuuuuuu

Que dizes?

Este artigo foi publicado originalmente em http://nepo.com.br/2011/08/16/ultimo-nepost-as-revolucoes-cognitivas-e-as-mudancas-nas-topologias-das-redes/

Sobre o autor

Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. É professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.

É autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.

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