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As 3 revoluções

Por Carlos Nepomuceno

Data de Publicação: 18 de Setembro de 2009

O conhecimento parcial nos afasta mais da realidade do que a própria ignorância - Nilton Bonder - da minha coleção de frases.

(Bom, ainda vou continuar a falar um pouco sobre as coisas que circularam na minha cabeça depois do debate da RioInfo.)

É certo que estamos vivendo duas revoluções certas e uma incerta.

As que estão em curso:

  • Uma revolução tecnológica na rede informacional-comunicacional - esta passa a ser mais horizontal, com mais possibilidade de expressão e troca a distância entre os grupos humanos. E ganham essa adesão por atender a uma demanda, ou necessidade de sobrevivência da espécie. Sem ela, entraríamos em entropia, pois era muito gente para poucos canais de rádio, jornal e tevê. Sem comunicação, sem inovação; Sem inovação, sem novos produtos; Sem novos produtos, problemas de sobrevivência;

  • Esta mudança na rede de conhecimento nos levará (ou já está nos levando) a uma revolução social - redes mais horizontais nos levarão, aos poucos, a reformular todas as nossas instituições, o que vai demorar mais ou menos tempo, e terá impacato diferente em cada pais. A mudança virá e nos colocará diante de uma nova civilização, com o fim de determinados absurdos que acontecem hoje (intermediação abusiva, falta de liberdades informacionais, etc) e criando vários outros (falta de privacidade, invasão de nossas intimidades, hiper incentivo ao consumo), que vão aguardar uma nova mudança na estrutura da rede para entrar de novo no ciclo de mudanças;

Porém, ambas, que irão modificar as estruturas sociais e também a nosso cognição, mas não nos levarão necessariamente a uma nova humanidade mais harmônica, pelo contrário, aumentará, em certos aspectos, as diferenças entre os povos. A mudança, portanto, de cada ser humano não está baseada na rede, apesar de que esta pode ajudar, se houver líderes que saibam caminhar nessa direção.

  • A terceira revolução, assim, totalmente incerta, pois independe das outras duas, estaria baseada em uma revolução filosófica-espiritual em uma nova relação do homem consigo mesmo. E não estará garantida por mais que reformulemos todas as organizações ao avesso. Nada garante que apareça, em função da mudança da estrutura da rede informacional, pois com ela continuaremos os mesmos, com nosso problemas atualizados.

    Ou seja, pode ser canal, mas não estabelece por si, uma nova lógica da relação dos homens entre si e com o todo.

    É interessante pensar dessa maneira, pois entre os tecnofóbicos (aqueles que estão inclusive perdendo com a mudança) e os tecnotimistas (que estão a impulsionando por quererem acabar com os absurdos visíveis) existe uma estrada estreita com duas mãos.

  • Uma que nos paralisa - é acreditar que apesar de tudo nada vai mudar no humano, o que não deixa de ter uma certa lógica, mas é paralisante;

  • E outra - que é acompanhar a revolução tecnológica e social e ainda acreditar no pós-humano (ou seria no verdadeiro humano?), desde que haja, em paralelo, ou se utilizando do novo canal aberto, um movimento de repensar o próprio homem e suas contradições, independente da rede em que esteja, o que não é garantido.

A favor desta última, como falei no post anterior, está a ciência e todas as descobertas em relação ao cérebro, que nos levará a chegar a conclusões, nunca dantes navegadas, o que pode reforçar aos mais céticos e pragmáticos, a importância da separação do eu e do ego, a meu ver, peça chave dessa revolução do espírito.

  • Não somos o que achamos que somos.
  • Não somos o que pensamos.
  • Nós só seremos quando nos tivermos consciência do que não somos.

Seria a resposta as minha inquietações naquele encontro, quando algumas pessoas consideraram ser possivel criar a humanidade 2.0, aprofundando o usa da nova estrutura da rede, como eu também já achei, mas não nado mais nessa raia.

Infelizmente, ou felizmente, para esse blogueiro, a raia é um pouco mais funda do que antes parecia.

Não será tão fácil.

Se fosse assim, o livro impresso teria cumprido esse papel.

Não vamos cair no erro dos iluministas que acreditavam na força da luz do conhecimento.

Lembro que o Google, nosso querido baluarte da Web 2.0, pai do Orkut e padrasto do YouTube, aceitou censurar páginas da web, a pedido do Governo Chinês.

Vale lembrar ainda que a biblioteca de Hitler tinha 16 mil volumes e ele era também um leitor compulsivo.

Se a leitura curasse?.

Assim, se você sonha em mudar o mundo com a Internet, boa sorte.

Se não acredita na mudança espiritual do homem, é um direito, às vezes também duvido.

Mas não nos iludamos e tapemos a história.

É isso.

Que dizes?

Sobre o autor

Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. É professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.

É autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.

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