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CeBIT 2010 #3 - Deutsches Forschungszentrun für Künstlish Intelligenz

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 28 de Março de 2010

Eu já comentei que caminhava muito na CeBIT. No início do terceiro dia, quando levantei-me da cama, meus pés e pernas simplesmente não responderam de imediato. Pareciam estar revoltados com os maus tratos e saíram cada qual em uma direção, comigo em cima, enquanto eu tentava exercer um mínimo de controle sobre a tentativa de independência de meus membros inferiores. Certamente, eles deviam ter tramado algo a noite inteira. Uma caminhada faminta do quarto do hotel ao aufzug foi o suficiente para dominá-los, mesmo que com o pagamento de uma dor generalizada que acompanhou-me o dia inteiro.

Com a piedade e camaradagem dos meus colegas da Interact consegui fazer meu programa do dia entre os pavilhões 3 (onde estávamos), 6 (onde havia o estande da Al Invest com empresas latinoamericanas) e 9, onde aconteciam as reuniões da Future Match. Com a experiência dos dois dias anteriores, eu já havia descoberto a rota de maior velocidade entre os pavilhões e levava, entre o 3 e o 9, cerca de meia hora. Assim, em intervalos maiores entre reuniões eu seguia para o pavilhão 6 onde também estava a missão da Espanha, país convidado da CeBIT, e quando o tempo era curto eu circulava pelo pavilhão 9 mesmo, onde muitas universidades europeias mostravam seus projetos de pesquisa e onde também estava o pessoal do DFKI - Deutsches Forschungszentrun für Künstliche Intelligenz. Vamos por partes? "Deutsches" e "Intelligenz" é molezinha, né? Alemão e Inteligência. "Forschungszentrun" é uma palavra composta. "Zentrun" é fácil também: Centro. "Forschung" é Pesquisa. "Künstlish" é Articicial. Logo, o DFKI é o Centro Artificial de Pesquisa para Alemães Inteligentes. Brincadeira, claro! É o Centro Alemão de Pesquisa para Inteligência Artificial.

A cada hora o estande do DFKI lotava. Todos os transeuntes deixavam de sê-lo para admirar a arte futebolística dos B-Human, equipe campeã da RoboCup 2009. Os robôs jogadores, produzidos pela empresa francesa Aldebaran Robotics possuem 21 articulações: cinco em cada perna, quatro em cada braço, duas no pescoço e uma nos quadris. Eles têm duas câmeras na cabeça e sensores de ultrassom no peito para calcular distâncias. Na cabeça, um processador de 500 MHz junta a informação dos sensores e câmeras para dar ao robô, em tempo real, a posição dos adversários, dos limites do estádio e da goleira e, claro, da bola. Pensa que parou por aí? Não! Os dois jogadores de cada time estão ligados por uma rede sem fio e trocam informações entre si. A mágica está no programa de inteligência artificial que, rodando colaborativamente na cabeça de cada robô, toma as decisões que se traduzem, em tempo real, nas ações dos mesmos. Durante o jogo não há intervenção humana mas nos intervalos é possível acompanhar o trabalho dos desenvolvedores fazendo ajustes em seus programas e nos sensores dos robôs. Como o ambiente era de demonstração, não era difícil ver que o resultado de um ajuste podia fazer o time esquecer da bola e correr para o abraço da galera, para a alegria do time adversário e de todos os que assistiam o jogo.

Mas o futebol de robôs é apenas uma das muitas coisas interessantes do DFKI. Como eu passei por lá em boa parte dos intervalos do terceiro dia do evento, acho que acabei despertando a curiosidade do pessoal do estande (muito provavelmente por estar especialmente rengo naquele dia) e fui brindado, além de boas conversas, com uma brochura relatando as principais pesquisas do Centro. Mas toda a informação está disponível no portal deles. Na parte de 3D eles são sensacionais! Um dos projetos, o BALLView, usa a estrutura normal de salas comerciais de projeção (ali onde assististe o Avatar) como laboratórios interativos de química e biologia. Imagina poder ver a decomposição de longas cadeias de proteínas em um aminoacidozinho básico num cinema deste tipo. E imagina a fila de nerds pra entrar no cinema!

É do DFKI também a tecnologia XML3D (com grandes chances de tornar-se um padrão) que adiciona a capacidade de visualização tridimensional para os navegadores da web. Com esta tecnologia vai ser tão fácil inserir elementos 3D em uma página quanto hoje é inserir imagens ou vídeos. Já vai vendo onde comprar teus óculos ou como arrumar uma namorada que trabalhe no CineMark.

Ao voltar para o estande da Interact no final do dia, acompanho a inusitada cena de meu colega alemão, o Thomas, pedindo dicas para uma belíssima moça de Palmas de Mallorca, a Denise Lunque da Bizzit de onde poderíamos comer uma legítima paella espanhola nas redondezas. O desejo do Thomas havia sido despertado pela revista da CeBIT, que falava da presença da Espanha no evento e apresentava algumas opções de restaurantes espanhóis em Hannover. Cheguei exatamente a tempo de ouvir a resposta da Denise: "Hmm, eu jamais comeria uma paella espanhola feita por um alemão!". Mesmo assim, adivinha qual foi nossa janta? E estava boa. A paella do Ó'Atlântico, um restaurante galego, foi feita por um português. Foi lá que o João Alex inventou de pedir uma rodada de 43 como um 129. Ou, em alemão: hundert und neunundzwanzig!

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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