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Colaboração: Rubens Queiroz de Almeida
Data de Publicação: 29 de Setembro de 2014
Nos dias 11 e 12 de outubro O Prof. Walther Hermann estará ministrando mais uma edição do curso Como Falar Outros Idiomas, na cidade de Campinas, SP. Aproveitando a ocasião, estamos fazendo uma entrevista com o Walther, para que ele nos fale um pouco mais sobre sua metodologia de ensino de idiomas.
Walther, como você desenvolveu este seu trabalho com o aprendizado de língua inglesa?
WH: Eu tenho uma paixão antiga por estudar processos de aprendizagem, provavelmente por ter algumas dificuldades de aprender como a maioria das pessoas faz. Certa vez, conversando com David Gordon, um dos treinadores norteamericanos que trazemos para ensinar no Brasil, comentei que eu aprendia muito lentamente; ele retrucou dizendo que eu aprendia profundamente. Seja lá como for, sempre tive facilidade com ciências exatas e dificuldades com ciências humanas.
Numa de minhas viagens para participar de treinamentos nos E.U.A. observei um fenômeno muito interessante com colegas brasileiros: eles frequentemente me pediam para ser intérprete deles. Isso é facilmente admissível quando consideramos aqueles que sabem mais ajudando quem sabe menos, não é? Não era o caso! Eu vivia tirando minhas dúvidas de vocabulário com eles - eles sabiam mais. Porém não conseguiam usar o que sabiam! Isso despertou em mim uma grande curiosidade.
Quando voltei comecei a prestar mais atenção a este assunto, pesquisando o desempenho de pessoas conhecidas que estudavam língua inglesa. Cheguei a dados assombrosos: entre 80 e 90% das pessoas que estudavam ou tinham estudado não tinham fluência em conversação! Bem, conclui que fazer escolas de idiomas não garantia o sucesso. Eu mesmo tinha frequentado várias na adolescência, e não tinha alcançado a competência. Minha vantagem é que não era inibido.
Somente na fase adulta, quando o conhecimento que eu desejava estava em inglês, é que conquistei o idioma. Estatísticas confirmam que apenas 3% da população brasileira domina a língua inglesa. Percebi algo mais: uma parte significativa dos que falavam inglês fluentemente, não tinham aprendido em escolas. Meu sócio aprendeu assim, sozinho. Eu, em grande parte, também! Uma parcela representativa dos 80 a 90% que falam, não aprenderam em escolas. Muitos professores de idiomas que conheci seguiram a mesma fórmula.
Eu insisto em afirmar que não sou professor de idiomas... Curiosamente, fiz experiências com alunos com menor desempenho e eles preferiam aprender inglês comigo, que não sou professor, do que com professores que contrato para dar aulas para meus clientes! Os professores sabem muito melhor o conteúdo da língua inglesa que eu, porém eu conheço melhor como as pessoas aprendem. Note que uso muito mais frequentemente a palavra aprender do que ensinar, pois acredito que exista um precipício entre ensinar e aprender! Minha arte de aprendedoré compreender a experiência de aprendizagem melhor do que a de ensinagem.
Se eu fosse professor e estivesse aprisionado ao paradigma do ensino, provavelmente nunca teria conseguido criar o método de aprendizagem que criei. De fato, eu apenas construí um roteiro preciso das etapas de aprendizado de uma criança e o configurei para instalá-loem adultos. Esse processo é denominado de modelagem... Essa é a arte que David Gordon nos traz: como decodificar a estrutura dos comportamentos humanos e multiplicar competências da excelência.
Você disse que não foi nem é professor de idiomas, então, o que você faz?
WH: Eu costumo me apresentar como arquiteto do aprendizado. Em inglês isso é melhor definido como learning designer, porém não há tradução fiel para o português. Eu sou um especialista em processos de aprendizagem.
Minha especialidade profissional é a educação de adultos com foco no desenvolvimento de competências e inteligências, cujos resultados incluem a otimização de processos de aprendizagem, isto é, aprender mais rápido, mais profundamente, melhor e com mais prazer.
O que eu fiz no universo dos idiomas estrangeiros, conforme mencionei na resposta anterior, foi mapear parte importante do processo de como uma criança aprende a língua materna. Ao reproduzir e simular isso, o adulto consegue reativar no cérebro a memória do como fazer para aprender um idioma estrangeiro.
Meu trabalho com idiomas constitui-se em ensinar meus clientes a pescar (como aprender) em vez de somente lhes dar peixes (conteúdos de língua estrangeira).
Para compreender melhor o que digo, creio que uma comparação seja bastante útil... Em minha opinião, quem mais entende de educação nos dias atuais são os designers de games! Ou arquitetos de jogos eletrônicos, se você preferir. Avalie o que eles conseguem: uma criança, um adolescente, um jovem ou até mesmo um adulto, é capaz de passar horas na frente de um jogo, sendo desafiado, errando e aprendendo, motivado, entusiasmado, decifrando desafios e superando obstáculos. Não percebe o tempo passar, fica sem comer, extasiado, aprendendo. Conheço, de fato, muito poucos mestres gênios com tal capacidade de atrair a atenção e de engajar e envolver com tanto vigor os seus expectadores. Os que menos entendem de educação na atualidade são aqueles que estudam isso formalmente! Entendem de políticas educacionais, repetem teorias como papagaios, não se expõem a desafios ou experiências de aprendizagem e conhecem muito pouco sobre estratégias ou processos de aprendizado.
Quando os professores forem substituídos por gamers que contemplem o conhecimento requerido pelo estudo formal, a educação não somente será bem mais eficaz, motivante, instigante e fácil, como também será bem mais barata! Conheci alguns jovens que aprenderam idiomas estrangeiros, especialmente a língua inglesa, por terem jogado muitos videogames. São frequentemente considerados dispersivos, desatentos ou hiperativos por educadores que não sabem como capturar os seus interesses, mas possuem um poderoso foco de atenção para o que lhes interessa. Estatisticamente sabe-se que apenas 3% dos diagnósticos de hiperatividade ou distúrbio do déficit de atenção são verdadeiros. Qualquer criança que consiga jogar um videogame não é portadora de DDA, mas são assim taxadas por seus educadores não saberem capturar-lhes a curiosidade ou atenção.
Evidentemente devemos ter em mente que isso representa uma revolução. Pois aos professores serão atribuídas responsabilidades muito maiores do que repetir histórias como papagaios! Terão que assumir o seu verdadeiro papel de educadores, aprendizes permanentes, cujo destino é contribuir para o processo de sociabilização das crianças e jovens e ensiná-los a pensar e a aprender. Isso somente é possível se eles se dispuserem a aprender! Então compreenderão o que é verdadeiramente aprendizado.
Quais são os fundamentos científicos do que você faz?
WH: Eu não me considero um cientista, mas baseio-me em várias descobertas que aprendi com meus mestres do comportamento: terapeutas, psicoterapeutas, neurocientistas, hipnoterapeutas, médicos, ciberneticistas, filósofos, educadores com letra maiúscula e treinadores de PNL.
Ministrei uma turma no início de 2013 na qual estava presente uma conhecida neurocientista. No final do curso ela deu o seguinte depoimento a respeito do trabalho que faço de reinstalação do softwarede aprendizado de idiomas: Foi o curso de Neurociência mais prático que fiz na minha vida! - e nem sequer sou neurocientista! Considero-me como um explorador da realidade. Creio que tal trabalho poderia dar uma bela tese de doutoramento, para validar cientificamente os resultados que ainda me surpreendem! Naturalmente estudei para chegar a isso.
Outra fonte valiosa que explica parte dos elementos que concorrem no aprendizado de idiomas é de um cientista francês, o Dr. Alfred Tomatis, médico otorrinolaringologista, que estudou o processo de aquisição do idioma falado, buscando entender e justificar parte da dificuldade de aprender outras línguas, em especial o inglês. Não concordo com todas as suas ideias, mas há verdadeiras pérolas em seu estudo.
Minha bagagem profissional pessoal vem da PNL, da Neurossemântica, do estudo e aplicação terapêutica e educacional da hipnose, das constelações familiares, da cinesiologia e de várias outras abordagens comportamentais, entre elas o Programa de Enriquecimento Instrumental do Dr. Reuven Feuerstein, psicólogo romeno radicado em Israel que estudou e comprovou a possibilidade de desenvolvermos a inteligência.
Seu livro sobre DoD está esgotado, mas muitas pessoas continuam produrando-o, você não vai publicá-lo novamente?
WH: Sim, em breve. De fato, já deveria estar pronto. Estou três anos atrasado com estes planos.
O livro Domesticando o Dragão foi lançado em 1999. Passaram-se 15 anos e hoje tenho mais recursos do que tinha na época, enriqueci o trabalho. Já tenho 40% do livro escrito. Creio que o terei pronto no primeiro semestre de 2015.
Há muitas coisas para serem atualizadas na versão anterior, algumas correções e atualizações e muitos acréscimos. Então quem deseja ler o livro atualizado deve esperar um pouco mais.
O que você gostaria de dizer para nossos leitores?
WH: Um grande vilão no aprendizado de uma nova língua é o estudo de gramática antes da hora certa. O domínio de um novo idioma depende de estimulação e prática.
São regras muito simples, considerando que as culturas humanas são, atualmente, muito semelhantes.
Há uma linguagem universal dos gestos e necessidades humanas que sustenta a comunicação verbal. Ela serve para dar sentido à linguagem que desejamos aprender.
Há muitos exemplos de pessoas que aprenderam sozinhas outros idiomas! Dependendo de seus maiores interesses, fizeram isso com revistas, livros, gibis, músicas, seriados, filmes, etc.
Se o indivíduo deseja acelerar tal processo, pode aprender com quem já tem um método que economiza tempo, dinheiro e esforço, como o método que desenvolvi. Caso contrário basta expor-se ao idioma que deseja e, com o tempo e a prática, o dominará. Temos isso pré-programado em nosso sistema nervoso, desde que não se utilize o filtro do intelecto ao estudar gramática ou comparar estruturas.
O que as pessoas podem esperar de seu curso de idiomas?
WH: Pelo histórico dos depoimentos de nossos clientes, podem esperar aprender com mais prazer, mais rapidamente, de uma forma mais fácil, com economia de tempo e dinheiro e, principalmente, de uma forma mais inteligente do que fazer provas tirando boas notas e não conseguindo utilizar o que aprende no dia a dia!
Do programa de dois dias (ou dez semanas no formato EaD) pode se esperar os seguintes resultados:
Ter um roteiro inteligente e um plano claro de ação para alcançar metas precisa e desenvolver competências específicas de domínio do idioma estrangeiro, seja ele qual for.
Esse curso é somente para iniciantes?
WH: Não. De fato, não é um curso de conteúdos de uma determinada língua. Nós utilizamos o idioma inglês apenas como exemplo para compreender a prática dos exercícios, porém o curso serve para qualquer língua.
Assim como as crianças de diferentes idades aprendem o idioma materno juntas, da mesma forma temos todos os perfis em uma mesma turma: iniciantes absolutos, pessoas que leem e escrevem fluentemente mas não são capazes de falar por bloqueios ou inibições e, até mesmo, professores de línguas estrangeiras em busca de tecnologia para melhorarem o desempenho de seus alunos.
Isso porque o conteúdo do meu curso é de métodos de estimulação e focalização de atenção: estratégias de aprendizagem. Eu favoreço que meus clientes aprendam a pescar, não lhes dou peixes, pois lembre-se, não sou professor de idiomas, sou um especialista em processos de aprendizagem.
Qual é a diferença entre este método e os métodos convencionais?
WH: Em nosso método, antes de ensinarmos o idioma estrangeiro propriamente dito, treinamos no aluno as suas competências de aprendizagem. Qualquer adulto que domine o idioma materno o aprendeu na infância... Portanto já vivenciou esse processo. Se o deixou de lado para se submeter aos métodos escolares, então poucos sobreviveram a tal condicionamento. Meu trabalho é desfazer as expectativas tradicionais e devolver a autonomia e o interesse por aprender para o aluno recuperar sua curiosidade por explorar a língua.
Existem duas dimensões a serem tratadas nesse aprendizado: como aprendere o que aprender.
O como aprenderé bastante universal: quase a totalidade das crianças do nosso planeta aprendem seus idiomas maternos (línguas diferentes), porém todas aprendem da mesma forma: por necessidade, observação, imitação e repetição. Diferentes línguas são aprendidas, aparentemente, sempre da mesma forma: primeiro um longo tempo de absorção de estímulos do idioma (audição), depois a produção da conversação (fala), após isso a alfabetização (leitura) e finalmente a produção escrita (redação).
O que aprenderé a língua materna propriamente dita, o código de comunicação de uma determinada cultura. Os métodos tradicionais de ensino de idiomas contemplam apenas o idioma: o que aprender.
Entretanto não dão atenção suficiente ao como aprender, mais universal. De fato, se lembrarmos do processo pelo qual passa uma criança ao aprender a língua mãe, facilmente concluimos que os métodos tradicionais de ensino de idiomas estrangeiros viraram de ponta-cabeça o processo natural de uma criança, ao tentarem iniciar o ensino com gramática! O estudo precoce de gramática de um idioma gera a consciência do certo e do errado antes do tempo, produzindo muitas inibições e bloqueios.
Durante muito tempo denominei meu trabalho de Desbloqueio para Aprender Línguas Estrangeirasporque encontrava muitas pessoas que se sentiam desta forma. Ainda encontro. Quase a totalidade delas começou o estudo do idioma pela gramática ou teve um mau professor!
Aquele como aprenderque mencionei, está instalado em nosso sistema nervoso como um software cerebral, porém as pessoas deixaram de acessá-lo por aprenderem a valorizar o que é irrelevante na comunicação: a gramática. Desenvolveram tal condicionamento e expectativa por recompensa aprendida nos cursos tradicionais e esqueceram-se do foco do aprendizado de uma nova língua: a comunicação interpessoal. Nosso organismo e sistema nervoso são o nosso hardware, isto é, nosso equipamento de comunicação e nosso computador biológico.
Em nosso método começamos reinstalando o software cerebrale, em seguida, criamos um plano de ação para o estudante baseado em suas necessidades individuais, de modo que ele se motive por resultados específicos. À medida que conquiste seus objetivos e atenda às suas necessidades, terá muito mais vigor e motivação para buscar outros resultados nas outras competências.
O que você quer dizer com competências no universo do aprendizado de idiomas?
WH: Bem, o domínio de uma língua estrangeira é constituído de quatro competências: duas de aquisição e duas de expressão de informação e/ou conhecimento.
As duas competências de entrada (aquisição) são a compreensão auditiva do discurso verbal fluente e a leitura e compreensão de textos. Através delas o aprendiz adquire o vocabulário e as estruturas da linguagem.
As duas competências de saída (expressão) são a fala ou expressão verbal e a redação. Cada uma destas depende da competência de entrada correspondente, audição e leitura, respectivamente.
Por exemplo, uma criança, ao aprender a língua materna, aprende a falar perfeitamente o idioma sem estudo formal, apenas pela prática. Se ela é bem estimulada e os pais falam um idioma de boa qualidade e riqueza, a criança aprende isso, sem qualquer estudo de gramática.
Atualmente, o que você está fazendo?
WH: Além de ajudar meus clientes a melhorarem seus resultados, eu continuo a estudar e a aprender novos conhecimentos, teorias e métodos.
Eu tenho um sincero compromisso com resultados mensuráveis e não me apego a teorias ou métodos que possam ser substituídos por melhores, mais simples e mais rápidos.
Adoro estudar e aprender. No momento estudo Nova Medicina Germânica e participo de um treinamento de liderança. Para o próximo ano talvez busque um mestrado em Neurociência para validar algumas de minhas hipóteses.
Quais são seus projetos atuais na área em que atua?
WH: Estou finalizando um curso à distância sobre solução de problemas, planejo finalizar a nova versão do livro Domesticando o Dragãoque será apresentada com um novo nome: Como Aprender Outros Idiomas e Outras Coisinhas Mais...
Pensando numa vida menos atribulada e com menos viagens também pretendo me dedicar mais aos atendimentos individuais com coaching e mentoria, além de intervenções terapêuticas brevíssimas.
Walther, obrigado pelo seu tempo!
WH: Eu é que agradeço pelo interesse por aquilo que eu adoro fazer: aprender e passar adiante aquilo que aprendo.