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GNU Health, um sucesso além do software livre

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 19 de Março de 2013

Conheço o Luis Falcón há algum tempo e já escrevi alguns artigos sobre ele e seu trabalho, que acaba de ganhar um destaque muito legal no portal OpenSource.com, em uma matéria e entrevista feita pela Jen Wike. A Jen permitiu que eu traduzisse o seu post para meus leitores do Dicas-L. Cá está ele! Obrigado, Jen!

Em 2006 o Luis Falcón criou o GNU Health, um software livre para a área da saúde que, recentemente, ganhou o prêmio de Melhor Projeto para o Benefício da Sociedade, concedido pela Free Software Foundation.

A organização sem fins lucrativos GNU Solidario é a responsável pelo GNU Health, que começou como um projeto em software livre para a assistência emergencial em áreas rurais de países em desenvolvimento. A partir daí, o sistema evoluiu para um sistema completo de saúde e administração hospitalar, usado pela ONU, hospitais públicos e outros agentes de saúde pública, assim como instituições privadas em todo o mundo.

A GNU Solidário e o Instituto da ONU para a saúde mundial firmaram um acordo, em 2011, para treinar profissionais de saúde do mundo inteiro, no uso do sistema, a fim de promover softwares livres para a área da saúde, priorizando países emergentes. A partir daí, as organizações têm cooperado e aumentado sua rede de parcerias para promover a saúde de forma universal, um dos objetivos de desenvolvimento do milênio das Nações Unidas.

Entrevista com Luis Falcón

Jen: Quais são as três vantagens principais no uso do GNU Health ao invés de sistemas proprietários usados atualmente?

Luis: O GNU Health é um programa oficial GNU, ou seja, é um projeto da comunidade de software livre e, em função disso, qualquer pessoa pode baixar o programa sem nenhum custo, aprender com ele e adaptá-lo a suas necessidades.

Não existe o compromisso com um fornecedor único, pois não há tal coisa para o GNU Health. Não há custos ocultos ou a venda de programas de atualização. Todos os que optam pelo sistema podem ter acesso a suas atualizações, sem custos.

Há uma comunidade internacional que dá suporte ao GNU Health. Temos um servidor onde é possível acessar uma demonstração do sistema. A documentação é um wiki, como a Wikipedia, e ainda temos listas de emails, canais de comunicação por mensagens instantâneas, sistemas de registro de problemas e um ambiente de desenvolvimento.

Jen: Além da questão do custo, o que mais deve ser considerado?

Luis: A liberdade e a ética. O GNU Health evolui a partir do talento, respostas e contribuições de uma comunidade em constante crescimento. Já existem instituições como as Nações Unidas e seu instituto internacional para a saúde global que estão promovendo treinamentos no uso do GNU Health para profissionais de saúde ao redor do mundo. A organização GNU Solidario, a base do GNU Health, promove cursos na área da saúde e no uso de softwares livres. Trabalhamos com a ONU e outras instituições para melhorar os objetivos do milênio no que diz respeito a atendimento primário e medicina preventiva. Temos módulos do sistema específicos para o tratamento da Malária, da AIDS e da Tuberculose. O GNU Solidário promove também os seminários internacionais para a saúde em países emergentes, conferências anuais focadas no uso de softwares livres para a área da saúde. Neste seminário temos conferencistas dos Médicos sem Fronteiras, da ONU, UNESCO, Cruz Vermelha, Universidades e ministérios de saúde de vários países. Você pode ver que isto vai muito além da gratuidade do sistema.

Jen: O GNU Health trabalha em conjunto com outros sistemas para a área da saúde, ou ele os substitui?

Luis: Isto pode acontecer de duas maneiras. No que diz respeito à gestão completa de um centro de saúde, o GNU Health combina e integra as informações do paciente com seus registros médicos eletrônicos (demografia, avaliações, histórico médico, resultados de exames laboratoriais, etc). Qualquer sistema desacoplado (contabilidade, recursos humanos e todos os tipos de registros de saúde) podem ser substituídos de forma a otimizar os recursos com o uso de um único sistema.

Mas o GNU Health pode, também, trabalhar em conjunto com outros softwares livres para a área da saúse. Por exemplo, o GNU Health pode armazenar imagens digitais de exames de pacientes (Tomografias, Raios X, Eletros e outros) localmente, ou conectar-se com sistemas que usem o padrão DICOM. A interoperabilidade é prioridade em ambientes hospitalares e softwares livres são a melhor maneira de consegui-la.

Jen: Os administradores da área da saúde são favoráveis ou relutantes à adoção de softwares livres?

Luis: Já instalamos o GNU Health em instituições de saúde públicas e privadas. Todos gostam da ideia de ter um sistema que pertence a eles. O GNU Health é um projeto comunitário, não há o compromisso com um fornecedor de software, não há licenças ou custos ocultos.

Jen: Quem adota o GNU Health precisa adquirir novos equipamentos ou contratar profissionais de TI para implementá-lo?

Luis: Isso vai depender da complexidade do projeto. Os sistemas de informação hospitalar lidam com muitas coisas (contabilidade, estoque, registros clínicos, fornecedores, epidemiologia, laboratórios, farmácia, segurança e controle de acessos e etc.). Assim, não é nenhuma surpresa que um projeto bem planejado e implementado irá requerer profissionais e equipamentos que possam sustentá-lo.

Jen: Como o GNU Health beneficia mais pacientes, profissionais de saúde e médicos do sistemas?

Luis: Além de ser um software livre, o GNU Health tem seu foco no fator humano e aborda, de forma holística, o paciente - suas prioridades são a promoção da saúde, prevenção de doenças, medicina familiar e fatores sociais que podem causar mal estar. No aspecto técnico, suas principais características são a escalabilidade e adaptabilidade. Hoje, há mais de 20 esforços de internacionalização do sistema, tornando-o adaptável em qualquer lugar do mundo.

Jen: O GNU Health é escalável?

Luis: O projeto modular do sistema permite que ele seja adaptado à complexidade do ambiente onde é adotado, O GNU Health usa a fantástica base de dados PostgreSQL, podendo ser implementado de forma centralizada ou distribuída. Além disso, ele foi desenvolvido na liguagem Python, no frameowrk Tryton, altamente escaláveis.

Jen: Você recomenda outras soluções em código aberto para sistemas de saúde?

Luis: Claro! Sistemas como o Aeskulap ou o Ginkgo são ótimos visualizadores para o formato DICOM. O Bika Labs é um sistema de gestão de laboratórios de análises clínicas que conecta-se diretamente ao módulo de laboratório do GNU Health. E o Tryton é um sistema de gestão empresarial completo.

Jen: O que temos que saber mais sobre nossa saúde?

Luis: A saúde é uma questão importante para nós, quer pensemos nela, ou não. Eu sempre incentivo a todos a pedir que seus representantes políticos que adotem softwares livres na área da saúde, porque a saúde é um bem público. Saúde pública e software proprietário são antagônicos.

Nós, como cidadãos, devemos exigir softwares livres na administração pública. Profissionais de saúde devem conhecer softwares livres e entender como eles podem ajudá-los, a seus pacientes e seus colegas. Na próxima vez em que você visitar seu médico, peça que ele leia esse artigo e prescreva a ele o uso do GNU Health.

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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